segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Os Clientes: Pedro de Leitões

Pedro de Leitões não é de Leitões, freguesia castiça do concelho de Guimarães, mas de outra do género, no mesmo concelho. Para que o moço não atrofiasse por ali, o seu pai, que não percebia nada de finanças mas possuía biblioteca, mandou-o uns tempos para o palácio de Fronteira, do seu amigo Marquês. Aí o podíamos encontrar, pelos jardins, lendo Hölderlin numa edição definitiva da Gedanken. Ou a flanar entre as mulheres, por aí fora.

Nos idos de 80 do século passado, Pedro foi à Suécia com um seu tio José. Este seu tio era um inaudito cavalheiro, nunca dizia não a uma senhora, qualidade notável que Pedro admirava e se esforçava por seguir. Foi nessa viagem singular que conheceu Heidi, a deusa anarco-libertária com quem viveu, durante três anos, numa comunidade psicadélica tardo-beatnick, em Sundsvall.

Por isto e por aquilo regressou à casa paterna, donde nunca saí, como costuma dizer, quando lhe dá a melancolia.

Pode ser visto a certas e determinadas horas com aquela tropa de putativos vencidos da vida do Café Toural. Também é motivo de muitos delírios gozosos o facto de Pedro de Leitões viver sozinho na sua quinta de brasão com um homem, um amigo, de quem nada se sabe a não ser o estranho nome de Pio Nine.

Convém talvez avisar que a passagem pela tal comunidade de Sundsvall ainda hoje se manifesta, uns flashesitos de vez em quando, principalmente quando escreve, confundindo-lhe as conexões, sobrepondo-lhe planos e tempos. Quando isso acontece, Pedro costuma dizer que a verdade não é uma narrativa plana, mas um rizoma.

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