quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Eu vi o progresso em forma de muridae

Estes dias, vinha eu no Campo da Feira a ler o Expresso do Ave, quando reparo numa cena insólita: mesmo ali junto à líder das grandes superfícies "low-cost" vimaranenses do pronto-a-vestir, a "Inflacção negativa", vejo um rato a atravessar o passeio, passar à minha frente, e enfiar-se por trás de uma caixa da EDP.

A minha primeira reacção foi reveladora de um certo asco e surgiu em duas fases distintas: Uma primeira (gritada) e que foi qualquer coisa como "Fôda-se! Cá puto de nojo!"; uma segunda (reflectida) e que foi do género: "Como é possível que uma cidade património da humanidade e que faz alarde da sua limpeza e higiene, tenha rataria a passear-se nas ruas?!"

Indignado, dobrei o jornal, apertei o cilício, estuguei o passo e dirigi-me à Câmara para expressar o meu protesto.

Uns metros à frente, junto à "Tasca Expresso", parei. Percebi que a decisão que acabara de tomar não fazia qualquer sentido. Não fazia sentido , em primeiro lugar, porque eram nove e meia da noite. Em segundo lugar, apercebi-me de que o avistamento do roedor era, afinal, um excelente augúrio. Pois não são as grandes metrópoles como Londres e Nova York assoladas por pragas desses bichinhos? Nesse momento percebi tudo: se os ratos têm um 6º sentido, que os faz prever as desgraças, devem ter um sétimo que os faz antecipar as venturas. Ora, eles já devem ter sentido que, com "Capitais de cultura", lagos artificiais, túneis, jardins subterrâneos e demais maravilheiro que aí vem, Guimarães é "the next big thing".

Fiquei feliz. A ratice já está a chegar, logo, o progresso está ali ao virar da esquina (por detrás da caixa da EDP). Entrei na tasca e mandei vir uma malga de tinto. Era tempo de festejar.

7 comentários:

  1. É enorme o bom augúrio resultante do avistamento descrito, meu caro, mas eu, pessoalmente, vou aguardar por visões de baratas (coquerouche, em americano), mais próprias de Nova Iorque, para beber malgas de tinto ao progresso.
    É óbvio que as beberei com gosto, por qualquer outra razão, assim que o meu amigo me devolver os vintes que lhe mutuei há uma semana.

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  2. Feliz com este post ficou o JEG.

    Se houve mais uma pessoa a ler o "Expresso do Ave", o número de leitores duplicou.

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  3. Ao MdS:
    Não seja tinhoso. Os vintes fazem-me seguramente mais falta a mim do que a si.

    Ao sarcásti corvite:
    Não seja maldoso. Há seguramente mais de duas pessoas que lêem o expresso do ave... Olhe, por exemplo, consta que o Pimenta é um leitor fervoroso.

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  4. E não só o Pimenta. Por exemplo, nós por cá temos o Expresso do Ave como a nossa principal referência quanto a jornais locais, nacionais, mundiais, e até mesmo, de mais além, e temos boas razões para dedicar um carinho muito especial a tão distinto periódico.

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  5. Razões para dedicar carinho?

    Então a notícia da reabertura do café Toural não foi publireportagem? De verdade que não pagaram nada por isso?

    Não posso crer.

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  6. Só podemos sentir carinho por quem, sem sombra de malícia, nos leva a sério, tal como merecemos.

    Ao contrário do que, capciosamente, insinua, a publicação da notícia a que se refere foi absolutamente gratuita, tendo sido feita a título de publicidade institucional (o serviço público no seu melhor!). Não pagámos, nem sequer um café.

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  7. Dona Sarcásti Corvite vai uma malga de tinto em honra do alves ?

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Avisam-se todos os nossos clientes que a tabuleta onde se lê RESERVADO O DIREITO DE ADMISSÃO tem uma função meramente decorativa. Neste café pratica-se a liberdade de expressão, absoluta até certo ponto. Qual ponto? É o que falta saber.