segunda-feira, 22 de outubro de 2007

A Alameda, os TUG e o Pós-Ruralismo Vimaranense

Fiquei profundamente magoado com o projecto que a Câmara Municipal de Guimarães apresentou recentemente para a Alameda de São Dâmaso.

Tenho que confessar que não fiquei enjoado com o facto de retirarem os carros e nem sequer fiquei constipado por fazerem daquilo uma zona pedonal. Contudo houve uma coisa que me magoou: saber que, em princípio, vão retirar os autocarros da Alameda.

Uma das coisas mais bonitas que Guimarães tinha (reparem que uso o Pretérito) era os verdinhos TUG, pejados de publicidade, a largarem e a recolherem velhotas na Alameda. Outra coisa engraçada era o facto dos TUG se largarem, emitindo uns gazes ruidosos e estranhos, quando paravam para recolher as ditas velhotas que, umas vezes tolhidas de medo e outras perdidas de riso não se conseguiam conter e também se largavam, imitando deste modo o bizarro comportamento dos autocarros. Ah, que saudades vou ter dessa pútrida sinfonia!

Para além disso a paragem dos autocarros na Alameda era uma espécie de descarga cultural que era feita na cidade. Em alguns domingos pude muitas vezes observar, enquanto lia nos bancos de jardim o Expresso do Ave, aqueles seres invasores e penetrantes a serem inseridos na cidade pelos Verdinhos da Alameda (nome que muitos já dão carinhosamente aos TUG). Depois, embevecido pelo canto dos pássaros, deixava-me sonhar: com o misterioso caminho dos TUG e com aquele riacho de pessoas que corria desesperadamente para a farmácia de serviço mais próxima…

Acabar com os autocarros na Alameda é dar a machadada final num movimento pós-rural que ainda teima em sobreviver na nossa cidade. É acabar com um momento de magia urbano-rural e é, acima de tudo, destruir um movimento migratório-cultural inconsciente.

Não iremos deixar a Alameda morrer!


PS: Foi a referência à Alameda (e a certos arrotos) feita pelo caríssimo Pedro dos Leitões que me motivou para escrever este texto. Dedico este pequeno trabalho a todos aqueles e a todas aquelas que vêm a sua pós-ruralidade posta em causa, bem como o acesso facilitado à farmácia de serviço mais próxima.

5 comentários:

  1. Eu amava tudo aquilo mas, agora estou noutra?

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  2. Bravo anónimo,

    Não me diga que se rendeu aos encantos "monoxidocarboniais" da Central de Camionnage - ao Guimarães Shopping?

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  3. Quem lê este post fica com a sensação que se refere aos transportes públicos como sendo o "transporte do povinho". Infelizmente, continua a ser assim. O que estranhamente continua a estar na moda é o automóvel. A Câmara de Guimarães ao criar estes parques de estacionamento está a dar o sinal errado. O investimento deveria ser feito em transportes públicos mais acessíveis, cómodos e baratos.

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  4. Caro anónimo,

    Longe de mim criticar quem usa transportes públicos ou tentar rotular os utilizadores dos transportes públicos de “povinho”. Eu por exemplo uso transportes públicos todos os dias…Claro está que eu sou “povinho”, ou não fosse eu de Oleiros. Contudo, infelizmente, não faço parte do (e sublinho do) chamada “pova”. Pode neste momento julgar que eu estou com um problema na distinção entre o masculino e o feminino mas não é isso que se passa…O “pova” é uma classe à parte do “povinho”. O povinho sou eu e outros demais que andamos de transportes públicos durante a semana e ao fim de semana vamos dar uma volta naquele BMW branco conseguido através do nosso suor e da fome e da iliteracia dos nossos filhos – pão com literatura uma ova (de esturjão)!
    O “povinho” sou eu e outros demais que apanhamos a caminheta no shopping e de quando em vez vamos ao Porto de tchu-tchu…O “pova” é algo mais nobre, mais distinto. O “pova” representa um movimento pós-rural que se desloca regularmente nos TUG mas só para tratar de assuntos de extrema urgência/necessidade. É claro que a média de idades do “pova” faz com que esses assuntos urgentes se tornem uma constante.Contudo estamos a falar de um movimento cultural e não em simples utentes de transportes públicos...
    Quanto ao resto concordo com tudo o que disse. É necessário investir nos melhoramentos dos transportes públicos.

    Cumprimentos,

    Olaf Oleiros.

    PS: se notou alguma incoerência no meu raciocínio perdoe-me, hoje tenho que confessar que não foi café o que bebi depois do almoço.

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  5. Querido Olaf , o seu texto, ainda que estarola, deixou-me com uma preocupação genuína, daquelas más … quem é que vai andar por ali, pelo Toural agora que os tugs (completamente podres é certo), com o seu mundo de buliço ao entardecer, nos vão deixar.

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