sábado, 20 de outubro de 2007

Os clientes: Honoré de Balazar

Não falta lá na terra quem ache que há qualquer coisa que não bate certo em Honoré de Balazar. Vive, há um par de anos, na casa da família, no sopé do monte do Outinho, que mantém guardada por quatro dogues argentinos, sequazes submissos e obedientes de uma cadelinha Yorkshire Terrier que responde pelo nome de Frida Dominatrix. Filho de Gervásio e de Aparecida Fertuzinhos, gaba-se de ser bissexto, preparando-se para celebrar o seu décimo segundo aniversário em 2008. Ninguém sabe dizer por onde andou, nem o que fez, desde que partiu para o Brasil com os pais, ainda nos idos de sessenta do século passado. A sua pronúncia tem um acentuado arranhar caipira, que pode muito bem ser resultado do piercing que traz debaixo da língua. Costuma vangloriar-se de receber em casa certas senhoras de Braga, já entradotas, a quem consola, por filantropia e caridade, e que são popularmente conhecidas como as balazarianas. Diz praticar a profissão de escritor, mas ninguém lhe conhece qualquer livro. Consta que escreve pornografia light e que, por razões meramente comerciais, assina os seus livros com o pseudónimo de Margarida Rebelo Pinto. Prepara-se para começar a escrever uma série de textos curtos, sob o tema “A verdadeira história de…”. Há quem suspeite que tenha nascido mulher e que, certo dia, farta de aparar o buço pertinaz, teria decidido mudar de sexo e deixar crescer a bigodeira magnificente que agora ostenta. Quanto a isto, como quanto a tudo o que diz respeito a Honoré de Balazar, não há nenhuma certeza. Certo, certo é que a beata Deolinda, que cuida das coisas da Igreja do Divino Salvador, jura a pés juntos que descobriu no livro de registos da paróquia que, no dia 29 de Fevereiro de 1960, D. Aparecida Fertuzinhos deu há luz um rebento, que foi baptizado com o nome de Honorata.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Avisam-se todos os nossos clientes que a tabuleta onde se lê RESERVADO O DIREITO DE ADMISSÃO tem uma função meramente decorativa. Neste café pratica-se a liberdade de expressão, absoluta até certo ponto. Qual ponto? É o que falta saber.