segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Nota de Abertura

Desde o aparecimento dos mais rudimentares cafés, sensivelmente há tempos imemoriais, que a humanidade neles conheceu avanços e recuos. Guimarães, como parte integrante da humanidade que é – sendo até, relembre-se, património da mesma – não é excepção: a sua História passa também pelos seus cafés. Dois exemplos, enrodilhados no confuso novelo das Lendas e em extremos opostos do Tempo, ilustram com lhaneza o que acabou de se escrever: o primeiro leva-nos a vésperas de 24 de Junho de 1128, ao famoso botequim do Javali Azul, à Vila Velha do Castelo. Diz-se que aí, um jovem chamado Afonso Henriques terá afirmado o célebre “eu vou-me a ela”, sendo ela não a conhecida cerveja fermentada no mosteiro de Pombeiro de Ribavizela, que fazia as delícias do Quase-Rei, mas sim a senhora sua mãe, Teresa. Quase mil e tal anos mais tarde, reza a lenda que às opacas mesas de vidro do Café Milenário o presidente da Câmara terá proferido o igualmente célebre “está bem, vamos lá candidatar-nos a isso da Cultura em 2012”.

Como facilmente se conclui, o café é, ou deve ser, um espaço de decisões, históricas ou nem por isso, quase sempre antecedidas de calorosos e profícuos debates. Espaço privilegiado de tertúlia e debate, o café é o lugar ideal para queimar palavras. É por isso que há quem reconheça a existência de um conceito de conversa de café, de uma corrente de pensamento por vezes facilitista e populista, por vezes densa e erudita, que só surgiu porque existem cafés. A ela se referem nomes tão díspares da intelectualidade, desde Arnold Geulincx, o flamengo, até Adelino Pinheiro, o derridiano da Rua Rei do Pegu. É, pois, com este espírito de missionário que um grupo de investidores nacionais e estrangeiros reabre, de hoje em diante, debalde e doravante, o lendário Café Toural. Sejamos todos bem-vindos, ora pois; discutamos a nossa cidade, pois então. Sempre com café à frente, por obséquio.

A Gerência.

13 comentários:

  1. sai um martini com cerveja sff. e reservo desde já a mesa pequena do canto nas sextas para comer orelheira de porco com cebola.

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  2. Bem-vindos sejam. Ou bem-vindo aqui sou eu? O espaço é vosso, afinal... Mas acredito que Guimarães vai mesmo passar por aqui.
    O que recomendam que tome, senhores?

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  3. A esta hora, pode sair um cimbalino com cheirinho?

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  4. Parece-me bem. Saia um aqui para a mesa.

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  5. Meus Caros:

    Não sei porquê, mas isto cheira-me a "4800guimaraes, o Regresso dos Bravos"!!!

    Estaremos enganados???

    Sejam bem regressados...

    E já agora era um cafezinho à moda antiga, feito com café acabado de moer aqui ao lado, na Porta da Vila, na Casa Luis, por favor...

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  6. Esquecemos de dizer que a partir de hoje queremos a mesa junto à janela, mesmo ao cantinho...

    É que os nosso bicos de papagaio não suportam correntes de ar...

    E já agora, vamos ter o "Metro" e o "Destak" para ler o horóscopo???

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  7. Refere-se aos que prometeram (um livro)e não cumpriram? Olhe que, aqui, somos da zona postal 4810.

    O café que cá se gasta é o da Casa Christina. E o moinho é nosso.

    Se tem problemas com o reumático, o melhor será reservarmos-lhe uma mesa longe da janela. É que, cá no Café Toural, as janelas também são as portas.

    Jornais, temos o Janeiro, o Notícias e o Comércio.

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  8. Cara Gerência:

    Se calhar o nosso reumático não atacará neste inverno que tem sido quentinho, pelo que ficamos mesmo com a mesa junto à janela. Assim também estaremos mais perto das novidades, mas não da livraria/Casa das Novidades, entenda-se, pois essa fica um pouco longe...

    O café da Casa Christina...bom... está bem, mas desde que depois não troquem e tenham daquelas zurrapas tipo, Brunati (parece o das farturas), Meltino ou marcas quejandas.

    Venha de lá pois esse café, mas sem açúcar, pois eu sou apreciador do verdadeiro sabor do café, sem açúcar e acabado de moer...

    Quanto ao jornal, não prescindo do Metro, por isso, tratem de o arranjar, se é que nos querem como habituées...

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  9. Aos clientes que nos pedem o metro, dizemos o mesmo que aos que nos pedem camarões: deve encontrá-lo no Ferreira da Cunha, que fica um par de portas ao lado.

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  10. Pregos (portuguese garlic steak sandwiches) temos. Dos melhores. Receita exclusiva do Martinho de Sandes.

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  11. Muito bom....o café.
    Parabéns.

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  12. Para além do prego, podem ainda V.as Ex.as deleitar-se com um exclusivo desta casa, de minha criação: o cravo, que consiste, de forma muito básica (e sem revelar o famoso ingrediente secreto), num naco de bife do vazio, com cerca de um dedo de altura, temperado com manteiga de cabra, alho e pimenta preta moída e sal, muito mal passado e servido entre duas fatias simétricas de cacete de pão d' água, ligeiramente aquecido, guarnecido com uma finíssima fatia de queijo, servido com o meu tradicional corte transversal e uma pitada de cinismo envolvendo tudo o que foi prometido pela geração do 25 d' Abril ainda no poder, e o contraste disso com a realidade actual, que lhe confere, em maior medida do que a sua dimensão, a nomenclatura. É recomendado o consumo com vinho tinto, ao copo, ou uma cerveja de tipo abadia, com não menos de 7º, em especial após o ocaso. A digestão melhora com o segundo copo e uma conversa interessante.

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Avisam-se todos os nossos clientes que a tabuleta onde se lê RESERVADO O DIREITO DE ADMISSÃO tem uma função meramente decorativa. Neste café pratica-se a liberdade de expressão, absoluta até certo ponto. Qual ponto? É o que falta saber.