[… continuado de aqui]
Onde se acha e quase se desvenda o segredo do Mestre-Escola.
Em sendo dado à terra o Mestre-Escola, Severina foi ao encontro do seu destino. Lançada à rua pelos herdeiros do reverendo, recolheu-se em casa da Emília Mata-Homens, na rua do Gado, onde se devotou, como prestadora de serviços, ao mester da casa. Fez-se mulher de porta aberta, pela muita necessidade e pelo pouco desprazer. Conservou o segredo do Mestre-Escola, cosido na barra da saia, até que se tomou de amores por um estudante que introduzira nas artes sensuais, Jerónimo das Lamelas, a quem quis oferecer uma demonstração do seu bem-querer. Contou-lhe que guardava um segredo e retirou, da barra da saia, um papel amarelecido. Jerónimo leu
No campo maior de correr toiros trinta e dous paços para lá da fonte na direitura do velho das barbas maiores hua grande lagem cimquo palmos por baixo da qual coatro caixoens com grande aver furtado aos gallicos aos vimte e hu de 10bro de oito cemtos & sete.
e confessou não atinar com o sentido do que ali estava escrito.
Foi assim que o escrito passou para a casa das Lamelas, onde, depois de lhe dar muitas voltas, Jerónimo o esqueceu no meio do volume do Itinerario da Terra Sancta e suas particularidades, composto por frey Pantaliam Daveiro. Mais tarde, a biblioteca das Lamelas foi parar às mãos de um célebre jurisconsulto vimaranense, que deixou os seus livros em testamento à Sociedade Martins Sarmento, onde o segredo do Mestre-Escola continuou bem guardado no aconchego das páginas do relato da peregrinação de Frei Pantaleão de Aveiro. Até que, mais de um século passado, foi encontrado e decifrado por α, um famigerado rato das bibliotecas indígenas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Avisam-se todos os nossos clientes que a tabuleta onde se lê RESERVADO O DIREITO DE ADMISSÃO tem uma função meramente decorativa. Neste café pratica-se a liberdade de expressão, absoluta até certo ponto. Qual ponto? É o que falta saber.