Aos que me acusam de dedicar um carinho especial ao jornal ainda conhecido por O Povo de Guimarães, eu tenho que confessar que estão com a verdade, mas não com a verdade toda: sou entusiasta de todos os órgãos da imprensa local, sem excepção, mas também de outros com vocação menos paroquial. Para exemplificar, direi que considero o JN um must e que aprecio, muito em especial, a inusitada criatividade que perpassa pelas notícias referentes à nossa querida terrinha. Cada notícia, por pequena que seja, é um monumento ao rigor e à objectividade. Se não perco uma, dou-vos duas (podendo dar-vos três, ou quatro, ou dezassete), a propósito do PUDAPECST*:
Logo à primeira, o JN atirou a intervenção projectada para o Toural para um patamar inesperadamente elevado, colocando-a no lápis de um arquitecto de projecção mundial, quando proclamou a Revolução no Largo do Toural com a assinatura de Siza. Consta que Álvaro Siza não sabia de nada.
Agora, revela que, num debate havido há dias na rua Paio Galvão, um dos autores do projecto (que não o Siza, que, incompreensivelmente, não apareceu) anunciou que o traçado previsto “preserva elementos da identidade do Toural (pequenos jardins, o chafariz)” e que as árvores do Toural "estão podres". O arquitecto, a estas horas, ainda não deve saber que disse aquilo.
*Processo Urbano de Discussão Arquitectónica e Paisagística Em Curso Sobre o Toural
Sr. Balazar
ResponderExcluirAntes de mais, parabéns pela prosa que produz neste café. E pelas leituras atentas que faz a tudo o que se escreve à sua volta.
O JN, jornal que o senhor confessa ler, a par do PG, titulou, recentemente, em parangonas, que o projecto de intervenção no Largo do Toural era do Siza Vieira. Erro crasso, concordo. Mas ofereço-lhe as obras completas do Balzac se detectar, no texto, alguma parte em que se atribua ao arquitecto em causa a autoria do projecto do Toural.
Sendo, como mostra ser (sem mostrar, claro, mas isso é um pormenor), um observador do tipo escuteiro - sempre alerta -, sabe por certo que os títulos nem sempre são elaborados pelos autores das notícias. No JN, pelo menos no que toca à informação local produzida pelos "correspondentes" ou "colaboradores", isso é frequente.
Mas quanto a isso já manifestei, como era meu dever, o desagrado a quem foi responsável pelo atropelo, resultante, por certo, de uma leitura diagonal do texto.
Quanto ao resto, até concedo (não gravei, mas terei oportunidade de aceder à gravação) que o termo usado pelo arquitecto para se referir às árvores do Toural não terá sido "podres"; não duvido, porém, que disse que as árvores não têm grande valor -
não têm particular beleza ou interesse botânico.
Creio que é benevolente o suficiente para não querer retomar, por causa destes nefandos erros, qualquer acto inquisitorial com fogueira ateada no Largo do Toural para queimar o escriba, nem me parece ser pessoa para comparacer ao Auto trajada como um qualquer membro do Santo Ofício ou do Ku Klux Klan, embora admita que possa ter um certo gozo em manter-se acobertado.
Saudações cordiais
Joaquim Forte
Escrevedor no JN.
Nota: o JN, tal como todos os jornais, tem uma secção do leitor.
Sr. Forte,
ResponderExcluirComo certamente terá verificado por aquilo que aqui se escreveu, referi-me ao JN e nunca a qualquer jornalista, correspondente ou colaborador. Para quem lê um jornal, é absolutamente indiferente se quem escreve a notícia é a mesma pessoa que lhe põe o título. O que lhe importa é saber que pode confiar no que lê, porque o jornal assim o atesta.
Convirá que diz muito do rigor do jornal constatar-se que os títulos não têm correspondência com a verdade, nem são confirmados pelas notícias que titulam. O título em questão (“Revolução no Largo do Toural com a assinatura de Siza”), estando longe de ser verdadeiro (sem que o tenha visto desmentido), está na origem de um dos mais recentes mitos urbanos de Guimarães, segundo o qual o Siza vai dar cabo do Toural (como sabemos, a maior parte dos leitores dos jornais lêem as notícias na diagonal, mas não era suposto que isso acontecesse com quem tem por missão conceber-lhes os títulos).
A notícia mais recente a que aqui me referi introduz dois novos mitos:
Mito n.º 1: O projecto preserva o chafariz do Toural.
Vendo o projecto, vê-se que não, que não preserva, antes pelo contrário. O que, ao que me consta, foi reafirmado por um dos seus autores no famigerado debate.
Mito n.º 2: As árvores do Toural “estão podres”.
Esta afirmação, atribuída a um responsável pelo projecto que a Câmara encomendou, a corresponder à verdade, seria, em primeiro lugar, um atestado de flagrante incompetência passado aos técnicos da própria Câmara que tratam dos jardins; em segundo lugar, seria o anúncio de catástrofe eminente, porque as árvores podres têm o péssimo costume de caírem sem se preocuparem com quem lhes passa por baixo.
Julgava eu, na minha santa ignorância em relação ao modo como se faz um jornal, que as aspas se usam quando se transcreve ipsis verbis aquilo que alguém disse. Quando leio num jornal que alguém disse que as árvores "estão podres e não valem nada" assumo que tenha dito exactamente isso, e não, mais ou menos, outra coisa qualquer, como “as árvores não têm grande valor – não têm particular beleza ou interesse botânico”. Antigamente ouvia-se dizer que um dos princípios do jornalismo era a procura rigor. Pelos vistos, agora tende a praticar-se o rigor do mais ou menos.
Aceite os meus cumprimentos mais calorosos.
Da sessão na SMS
ResponderExcluirAs árvores estão podres/apodrecidas.
O projecto preserva elementos da identidade do Toural (pequenos jardins e o chafariz)
JF
Se me diz que o arquitecto disse que "as árvores estão podres/apodrecidas", não tenho como o negar. As pessoas com quem falei disseram-me que o arquitecto não disse isso, apenas que as árvores não tinham qualquer valor. Se o disse mesmo, há aqui qualquer coisa que não bate certo. Como é que se deixam árvores podres em via tão movimentada? Não será esta uma boa pergunta para ser colocada aos responsáveis municipais?
ResponderExcluirJá quanto ao chafariz, aí não há confusão possível. O projecto não prevê a manutenção do chafariz, mas sim o seu desmantelamento, dele aproveitando apenas a escultura de bronze para colocar num espelho de água. E o assunto, dizem-me, até foi colocado no debate por alguém no público que, por sinal, seria filho do autor do projecto do chafariz que agora está no Toural, que contestou o propósito do seu desmembramento.