sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

O Segredo do Subterrâneo do Toural ou A Cobiça - III

[… continuado de aqui]

Aqui se continua a relação muito fiel e verdadeira do segredo singular que se esconde nas profundezas do Toural, na muito antiga cidade de Guimarães.

Por aqueles dias turbulentos em que a ameaça francesa se instalou nesta terra, uma improvável sucessão de coincidências trágicas abateu-se sobre a Colegiada de Guimarães.

Em finais de Junho de 1808, quando marchava de encontro aos franceses, na retaguarda do heróico Batalhão de Privilegiados de Nossa Senhora da Oliveira, o Cónego Francisco de Góis, tombou fulminado por um tiro de bacamarte que lhe trespassara o coração. A morte do cónego causou certa admiração, já que na altura não se viam franceses por perto. Quando fez o auto do óbito, ao observar a trajectória da bala, o cirurgião da tropa perguntou se o reverendo marchava às arrecuas. Responderam-lhe que não. Houve quem jurasse que o tiro não tinha partido do inimigo.

Algum tempo depois, ainda naquele ano, Jerónimo, criado do Mestre-Escola da Colegiada Dionísio Vicente, envolveu-se numa rixa à porta do botequim do Quatro-Olhos. Quando acudiram aos seus gritos, deram com ele já sem sinais de vida, tombado de borco numa poça de sangue.

No dia 4 de Janeiro de 1810, Celestino Ventuzelas, sacristão da Colegiada, quando começava tocar as matinas, teve morte súbita, com o crânio rebentado pelo badalo do sino maior que, sem que se perceba como, se soltou antes que se escutasse a primeira badalada.

Ainda dois anos não eram passados, em Novembro de 1812, quando seguia a caminho da sua casa em Gominhães, o Cónego Alberto de Lemelhe foi atacado por um bando de salteadores. Morreu de morte lenta, esvaindo-se em sangue com uma faca espetada no ventre.

Por essa altura, o capinha da Colegiada Martinho do Santo Espírito começou a das mostras de grande perturbação. Passava os dias prostrado de joelhos na Igreja, a rezar, entre choros e gemidos. Nas ruas, andava em passos assustado, como se tivesse medo da sua própria sombra. Dizia que estava amaldiçoado. Quem o via, diria que tinha ensandecido. Andou desaparecido para cima de uma semana. Até que apareceu a boiar no fundo de um poço, na Madroa. Quase ninguém teve dúvidas: na sua demência, pusera fim à vida que se lhe tornara num fardo insuportável. Só ninguém explicou porque é que tinha as mãos atacadas atrás das costas.

[a continuar...]

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