[… continuado de aqui]
No mesmo dia em que tiraram o infortunado capinha do poço da Madroa, o Mestre-Escola da Colegiada Dionísio Vicente chegou a casa com os bofes carregados de vinho. Não demorou muito para se atirar para cima da sua manceba Severina, a Cara Linda. No meio da refrega, confidenciou-lhe que estava rico, muito rico, que ia partir para a Corte e que ia levar a sua cabritinha Severina com ele. Fosse pelo destempero dos jogos carnais, fosse pelo avinhado que estava, fosse pela comoção que o acometia, Severina sentiu o reverendo burgesso começar a arfar desalmadamente. Pela luz esparsa que irradiava da vela que iluminava o quarto, viu-o ficar roxo, cada vez mais roxo, roxinho. Até que se foi, com um espasmo e sem um ai Jesus!, ali mesmo, em cima dela, trespassado por um estupor apopléctico fulminante.
Severina empurrou de cima de si a visão da morte. Apesar do medo que a assaltou, recompôs-se, como sempre fora moça precavida, antes de gritar por ajuda, descoseu a bainha da manga do reverendo, de onde retirou o papel que, havia algum tempo, ele lhe tinha pedido para ocultar na velha jaqueta que nunca largava. Soubesse ela ler, e teria ficado a conhecer o segredo funesto do Mestre-Escola. Não sabia, mas tratou de guardar o papel em bom recato.
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