Encontrei hoje, quando mergulhei no pó*, forçando desencadear a activação excessiva das células mastócitas e basófilas, na esperança de provocar um choque alérgico que me colocaria numa muito conveniente quarentena, que calharia bem, com o tempo que faz lá fora, quando, no meio do Almanach Bertrand de 1901, marcando as páginas de um poema em forma de charada, sob o título de Os Problemas de Caramuel (um figurão do século XVII, “altamente versado em matemáticas, e tão predilectos lhe foram sempre estes estudos, que as próprias questões teológicas era pelas matemáticas que intentava demonstrá-las e resolvê-las”), encontrei um papel que, além de manuscrito, é intrigante. Li:
Sobre Guimarães. Apontamento que copiei d’O Burgo Podre, 1.º número, deste mês de Dezembro de 1902:
«Essa é boa. Dezembro é Inverno. Em Guimarães não há cafés. Em Guimarães não há clubs. Em Guimarães não se toma chá. O jardim fecha cedo e se estivesse aberto era tolice – em Dezembro não se passeia no jardim. Guimarães vai para S. Domingos passar a noite, cavaquear, namorar, cear, arrotar o quilo e ver o magnífico espectáculo das criancinhas cheias de pulgas.»
Ao ler isto tive uma revelação: alcancei que Guimarães é um enigma cuja compreensão só estará ao alcance dos iniciados nas artes das matemáticas, da numerologia ou da ciência cabala. Onde anda o Caramuel que o irá decifrar?
* Pó dos livros, não esse que a vossa cabecinha viciosa e depravada ousou cogitar.
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