sábado, 13 de dezembro de 2008

A CEC2012 É Minha

Cansado de esperar pela indicação, mais do que justa, do meu nome para Comissário do grande evento que se anuncia para 2012, decidi que era tempo de agir e aproveitar alguns exemplos inspiradores.

Tenho o imenso prazer e a grata satisfação de anunciar a Guimarães, a Portugal, à Europa e ao Mundo que acabo de registar a marca Guimarães Capital Europeia da Cultura 2012, a sigla CEC2012 e respectivas variantes, na classe 41 da Lista de Nice (9.ª edição), referente a serviços de
Educação; formação; divertimento; actividades desportivas e culturais. E aos que, movidos por esse feio sentimento que é a inveja, vierem objectar a minha legitimidade, questionar o meu sentido de oportunidade e invocar a minha suposta incoerência em relação ao que terei dito antes, responderei: antes eu do que um chinês.

Meus senhores: se não me querem para Comissário, nem sequer para membro da Comissão, vão ter que me engolir como comissionista. É a vida…

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Espertezas®

Primeiro veio um italiano com nome de máquina de cimbalino e registou a ‘marca’ I Love Guimarães. A seguir, uns cucos tertulianos, com declarado pavor aos chineses, anunciaram ao mundo que registaram a ‘marca’ nicolinas. Sabemos agora, por chamada de atenção de cliente atento deste café, que mais alguém teve a ideia de registar algo que não inventou, sobre o qual não detem quaisquer direitos de autor, e que, há muito, pertence ao património colectivo: a expressão Aqui Nasceu Portugal. Está a ser privatizada, à sorrelfa, e também vai ser uma ‘marca’. A gente, na nossa ignorância aparvalhada e boquiaberta, pergunta: como é possível? E pergunta: que mais virá aí? E pergunta ainda: será que as digníssimas autoridades vão fazer qualquer coisinha a propósito?

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Mandem para cá

Na Bracalândia não se brinca com coisas sérias. Não se brinca, por exemplo, com escavações arqueológicas. Consta que o alcaide de lá terá mesmo proclamado que já chega de andar a brincar às escavações. Descobriram um grande templo romano? Não sabem o que lhe fazer? O progresso, em forma de via subterânea, não pode parar? Façam como já fizeram à colecção Albano Belino. Mandem para cá, que a gente cuida. Nós aqui até gostamos de escavações. Temos uma certa queda para o património. Adoramos velharias. Do que não gostamos é de túneis.

Se...

Se, numa única noite, há perturbação do sossego e da tranquilidade pública; se se viola a lei do ruído (inclusive com o lançamento de foguetes em hora não autorizada); se se permite a venda e o consumo de bebidas alcoólicas a menores de 16 anos; se se transige com o fumo de tabaco em restaurantes e outros espaços onde vigora interdição legal; se ocorre o fornecimento de alimentos e bebidas manifestamente impróprios para consumo, de que resultaram 24 casos de intoxicação alimentar grave, com necessidade de hospitalização, e um número incalculável de manifestações de desarranjo ligeiro (vulgo, virar o barco); se (o tempora, o mores!) se fornecem castanhas assadas em cartuxos de papel de jornal; se a ASAE sabe...

sábado, 22 de novembro de 2008

Mistério Com Cucos Dentro

Ainda na fase de voltar à terra, depois de um breve período de recolhimento e meditação no coração de gelo da Sibéria, continuo a ver no que param as modas. Confesso que sou um pouco dado à intriga e à bisbilhotagem. Confesso o pecadilho, tão vimaranense que ele é! É a minha costela cuscuvilheira a funcionar. Quis saber os desenvolvimentos da discussão tão elevada que esta minha alfinetada provocou.

Fui beber à fonte, isto é, ao ninho dos cucos. E encontro o silêncio mais absoluto, o que não seria para estranhar num convento. Do tão proclamado e tão sui generis registo industrial da marca Nicolinas, nada. Nem uma mísera palavrita. O anúncio, ufano, vanglorioso e triunfal, próprio de quem tinha descoberto a pólvora antes dos chineses, onde se anunciava ao Universo e respectivos arrabaldes que

"a designação “Nicolinas” já se encontra protegida ao abrigo do direito da propriedade industrial, impedindo-se assim a sua utilização abusiva e o eventual registo por entidades não Nicolinas ou estranhas às Festas"

esfumou-se. Eclipsou-se. Dissolveu-se no ar.

Onde se podiam ler estas notícias, de que o Sr. Google ainda guarda uma vaga memória,

[Aperte a imagem, para ler melhor]

agora, encontra-se isto:

[Duvida? Pode conferir aqui]

Nada. Nemigalha. Nente. Nicles. Peva. Zero.

Quem me explica o mistério de tal sumiço?

Arrependimento? Má consciência? Ou já estarão a inventar novas maroteiras?

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Velhos Nicolinos Com Novo Visual

Depois de umas semanas em hibernação na frígida Oymyakon, regresso a casa em maré de fervor nicolino, tão tradicional e tão estival. Por aqui, já se ouvem rufar os tambores. O nosso alcaide anda preocupado com as nicolinas, na assembleia municipal os senhores deputados vão dissertar sobre a candidatura das Nicolinas a património da humanidade, diz-se que os da tertúlia nicolina têm muito tempo livre e, acabo de descobrir, a guardiã da tradição, a AAELG - Velhos Nicolinos, tem um site com novo look, muito colorido e muito contemporâneo, como se pode conferir na ilustração acima. Consta que a figura de negro, à direita, é o novo monumento nicolino, a inaugurar ainda este ano. Para apreciar melhor, apalpe aqui.

Post scriptum: afinal, hoje, dia 22, a página dos Velhos Nicolinos já voltou a ser o que era. E nem sequer foi atingida pela febre nicolina da estação. Por ali, as notícias mais frescas têm meio ano, tendo-se estacionado nas Nicolinas de 2007...

Energúmenos...



Foi há pouco...

Anda demasiado burro à solta por aí...

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

É Comprar, É Comprar!


Santa Rosa Lima está num alvoroço, mas nada a que não esteja já habituada a várias vezes secular instituição. Afinal de contas, já no Séc. XVIII ali se vendiam linhos afamados, com direito até, a exportação para o Brasil.
Certamente será por isso que alguns dos actuais residentes, sempre ciosos na defesa das tradições, vendem agora, ufanos, gorros, t-shirts, cachecóis, cachecóis miniatura (sirva isso lá pó que servir), porta-chaves
e até packs com tudo lá dentro! Ah! E a pérola das pérolas, algo que só alguém profundamente conhecedor das festas e do seu sgnificado, poderia conceber: fitas das maçazinhas, já devidamente impressas, que a garotada de hoje, como se sabe, perdeu a arte do bordado e da pintura...

Sim, são os mesmos que se indignaram (muitos vieram até aqui ao café, destilar razões) por outros terem opinião diversa sobre decisão de registo de determinada marca (nem a reproduzo aqui, não vá o dito já a abranger os escritos), que todos pensávamos pertencer a todos nós...
Os mesmíssimos que, com a lata que caracteriza a mitomania compulsiva, defenderam que o tal registo apenas servia as festas, que era para não permitir que a tal marca fosse objecto de cobiça de uns gananciosos (que só eles pareciam conhecer) e dos seus inconfessáveis interesses económicos/comerciais.

Pois não é que, tendo eles registado a dita marca, promoveram ou encomendaram o desenho dos cartazes que dentro em pouco andarão aí pelas ruas e, agora, com o mesmo design, certamente por curiosa coincidência, surgem os tais ditos produtos de "merchandising", à venda no sítio do costume (uma feira virtual recém criada no site dos meninos).

Eles que, desinteressados, entregariam a marca e o seu registo à Comissão de Festas, para que a governasse como quisesse, vendem os artefactos no seu tasco virtual, quando, por mero acaso, a Comissão até tem um site próprio...

Com certeza que também já terão pensado nisto, argutos como são:
A Comissão é eleita todos os anos, como sabemos, pelo que não deixa de ser maravilhoso que, segundo se diz, a filantropia desses senhores os tenha já levado a celebrar contrato para produção do dito merchandising com uma conhecida casa comercial cá da cidade, até 2012...
O que será que acontece, se a próxima ou uma das próximas Comissões eleitas, não desejar os termos desse contrato? Com certeza, tão ilustre gente, irá cumprir a sua palavra, como é próprio de quem não ganha nada com isto e só quer servir: rompe-se o contratado, indemnizando a contraparte... está-se mesmo a ver! Ao que chega o espírito de sacrifício, por amor às festas...

Mas, se tudo isto é cómico, depois, a coisa ganha foros de hilariedade... esta manhã, um determinado Sr. Vereador, na reunião de Câmara, alertou para o facto de, quando no sítio da internet da dita associação se clicava no link para obter mais informações, era-se redireccionado para o e-mail da loja virtual da Cooperativa Municipal Tempo Livre... O Dr. António magalhães, parece que não ficou nada contente com a história e terá dito que iria ser radical na posição a tomar. Vamos ver o que acontece... Escusam de lá ir, porém... ainda durante aquela reunião do executivo, a coisa foi alterada... deve ter sido lapso, todos sabemos que é bem mais fácil montar uma loja virtual num site do que criar uma conta de correio electrónico e seus reencaminhamentos, tarefa só possível a informáticos de gigantesca craveira.

Também é giro, andarem por aí a circular uns e-mails que recomendam a visita à tal feitoria cibernáutica, dizendo tratar-se de uma iniciativa da dita casa comercial da cidade e da própria Comissão de Festas... deve ser por isso que as coisas se vendem no sítio deles e não no da comissão ou em qualquer outro lado.
Aqui o vosso Martinho, que acha isto tudo bestial (no sentido próprio, etimológico, da expressão) já sabia que ia ser assim. Aliás, no fundo, sabíamos todos... Costumava dizer à abundância, a minha avózinha, que, geralmente, as pessoas só vêem mal nos outros, quando estão a pensar no mesmo... deve ser por isso que eles viram os tais "interesses comerciais" de que mais ninguém se apercebeu... percebemos todos, agora, porque os viram eles e não outros...

Mas afinal, porque não? Se até foi a esses senhores, armados em procuradores da Comissão (a tal que, por não ter personalidade jurídica, não pode mandatar), que a Câmara Municipal atribuiu um subsídio de 2.500€ para as festas...

Vou mas é tomar um carioca duplo, que estas ceninhas dão-me sempre um arrepio nestes velhos ossos... Ó rapaz... não... afinal... traga-me antes uma C.R.F..

Valha-nos a Prioresa Madre Catarina das Chagas...

sábado, 25 de outubro de 2008

Dos Efeitos Secundários da Vinolência

Hoje acordei a modos que assim, atordoado de melancolia. A parede do meu quarto não pára de rodar e, vá-se lá perceber a que propósito, há uma música triste e velhinha que martela por dentro da minha caixa de ressonância craniana:


quarta-feira, 22 de outubro de 2008

O Algodão Não Engana!

Pois que se calem de vez os velhos do Restelo que, à falta de mais que fazer, se têm ocupado a arrasar a grande garagem subterrânea do Toural, antes mesmo de ser construída. Está cientificamente demonstrado: aquilo de que Guimarães mais precisa é de novos parques de estacionamento.

domingo, 19 de outubro de 2008

As Nossas Queridas Cheerleaders

Os responsáveis do Vitória continuam a dar mostras de um preocupante desfasamento da realidade. Decidiram agora “criar o grupo de Cheerleaders, uma espécie de claque feminina que anima os jogos antes e durante o intervalo”. Espanta saber que não sabem que há muito que o Vitória tem esse grupo, aliás famoso em todo o Mundo e seus arredores. E tem uma enorme vantagem em relação ao que agora se propõe: com elas, a animação não pára antes, durante, nos intervalos, depois dos jogos e, em geral, em toda a parte onde se fale de Guimarães e do Vitória. Aquelas senhoras mereciam mais respeito.


sexta-feira, 17 de outubro de 2008

A Banhada da Vimágua

Recebeu em casa uma factura da água 50 vezes acima do que estava à espera? Segure-se. Não há razão para pânico. O mais certo é que seja uma travessura agaiatada e ternurenta do jovial Presidente do Conselho de Administração da Vimágua, só para chamar a sua atenção. O que ele quer é que fale com ele. Vá lá, não se assuste, não se irrite, não o leve a sério. Mas fale com ele. O pequeno precisa dos seus mimos. E o melhor é dar-lhos. Se ele amua, ainda lhe manda cortar a água.

O Mercado Livre em Guimarães: A Feira do Pão

Noutro dia, por exemplo ontem, nos meus périplos pelo velho burgo de Guimarães deparei-me com duas coisas:

1º - Comigo mesmo. E isto como devem compreender foi algo de transcendente que será objecto de um extenso artigo no dia 1 de Novembro.

2º - Com a prova de que o mercado livre funciona. É neste ponto que me vou deter (esta palavra – deter – é curiosa, visto que tanto pode servir para o efeito atrás utilizado como para classificar a futura situação de alguns administradores bancários responsáveis por esta crise).

Falemos do essencial. Em Guimarães, em plena “crise”, verifica-se um fenómeno quase único à escala global: o mercado livre funciona. E funciona na Feira do Pão. O leitor mais incauto poderá pensar que estou a falar da indústria panificadora mas engana-se. Estou a falar do comércio de droga, essa nobre actividade.

Qualquer um de nós poderá verificar este exemplo do funcionamento do mercado livre, sem qualquer tipo de intervenção estatal ou camarária, se passar pelo belo largo da Feira do Pão (Largo Condessa do Juncal). E não é a esta tardia hora em que vos escrevo que se verifica a liberdade do mercado, é a qualquer hora da manhã ou da tarde (afinal estamos a falar de comerciantes honestos, que nada têm a esconder).

É fantástico a assistir a esta dinâmica de mercado em pleno centro histórico! Os clientes, alheios à crise e a quase tudo, reúnem-se nos bancos de jardim aproveitando a sombra e a calma do local. Empreendedores, não deixam que a preguiça os vença e, dinâmicos, ajudam os automobilistas a encontrar um bom lugar de estacionamento a troco de uma pequena maquia. Entretanto, provando que o mercado funciona sem intervenção estatal, camarária ou policial, aparecem os mercadores de droga que prontamente satisfazem os seus clientes. Este processo ainda que livre é complexo e os clientes, imbuídos de um espírito sindical, nomeiam um representante que, voluntarioso, entra num dos carros dos comerciantes transportando o dinheiro de todos os seus colegas. Após um breve passeio (com ou sem direito a comissão), regressa com o produto recém adquirido, distribuindo-o pelos seus colegas.

Depois disto só me resta olhar para esses cépticos do mercado livre e dizer como um emigrante de Oleiros me disse aqui há uns anos quando foi à Suiça lavar dinheiro: Laissez Fairy.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Contribuição de Mourinho & Marinho Para o Novo Acordo Ortográfico


A propósito do ainda agora aqui cheguei e já me vou embora ex-Director de Comunicação do VSC, pus-me à procura dos resultados do seu tão propalado e grandiloquente projecto para o Vitória, que tanto podia dar para o Leiria como para o Braga, e descobri que tão montanhosa montanha pariu um ratito pequenito. A principal marca (melhor diria, nódoa) que deixou foi uma inaudita bacocada intitulada Mensagem de incentivo do "Special One" à nossa equipa, onde, a certo ponto, de lê: O sorteio da pré-eliminatória não foi madrasto. Como disse? Madrasto? Isso mesmo, madrasto, um novo ente até aqui jamais avistado, um híbrido algures entre um padrasto efeminado e uma madrasta transexual. Diz-se à boca pequena que Mourinho e Marinho, tão amigos que eles eram!, já andam de candeias às avessas por causa do registo da propriedade industrial do neologismo: consta que o One diz que a palavra é dele, porque, para todos os efeitos, mesmo não a tendo dito, disse-a; ao que o lampião falante responderá que não senhor, que foi ele que inventou a declaração e que, por isso, não a tendo dito, escreveu-a, pelo que o madrasto é seu.

Ah, sorte Padrasta, aturá-los.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Assim, Como Abanar o Esqueleto?

As nuvens encobrem a lua cheia. Escuridão. Para além do sussurro das ramagens, bulidas pelo vento, silêncio e nada. Atravesso a noite negra com os sentidos despertos pela insónia, pressentindo o cheiro fresco da terra húmida do cemitério. Ao longe, percebo sombras esparsas que se movem, numa dança macabra cadenciada pelo sopro da aragem. Subitamente, um arrepio agudo e frio percorre-me a espinha. Do além-túmulo, há um grito que se solta e rompe o silêncio e o nada, sinistro, cavernoso e ameaçador: Quem foi o filho da puta que apagou a luz?

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Rapidinha

Cúmulo da rapidez:
- És director de comunicação do Vitória, não eras?

Nem Riso, Nem Siso

A propósito do que escrevi aqui há uns dias, antes da minha recente viagem a Cuba do Alentejo, onde fui operado, com assinalável sucesso, a uma hérnia umbilical pelo sr. Alfredino Chaparro, distinto barbeiro cubano, recebi uns quantos mimos, muito mimosos (e outros os receberam por mim, sem terem nada a ver com o assunto e sem se darem ao trabalho de me agradecer. Ele há gente muito ingrata, lá isso há).

Dizia eu que a cena do registo da propriedade industrial das Nicolinas só podia ser piada. O Honoré, a quem, sem descobrir a careca, tiro o chapéu, demonstrou que aquele número era mesmo uma anedota. Mas houve quem não achasse graça a tal demonstração e desse parte de um mau humor carrancudo, taciturno e enfadonho, porém compreensível em quem teima em se levar demasiado a sério. Ai esses vossos fígados, meus amigos!

Assim sendo, porque das 34 classes de produtos e das 11 de serviços da famigerada “Lista de Nice” só duas estão bloqueadas pelo inopinado, porém muito original e espirituoso, registo, vou-me dedicar ao negócio das camisas nicolinas: as camisas brancas do trajo, as lisas e as de irópito (classe 25), camisas de Vénus (classe 5), que vestirão muito bem nas fálicas baquetas de S. Nicolau, e camisas-de-forças (classe 10), muito úteis para suster as compulsões de certos senhores para inúteis registos de marcas e patentes. E porque a falta de sentido de humor pode ter origem em alguma falta de chá, vou diversificar a minha carteira de negócios e lançar-me na produção das “Tisanas Nicolinas” (classe 30), à base de ranunculus sceleratus, vulgarmente conhecido por sardónia, erva que tem a virtude infalível de induzir o riso sardónico.

domingo, 12 de outubro de 2008

As Vacas

Então, disse o Faraó a José: Eis que em meu sonho estava em pé à praia do rio. E eis que subiam do rio sete vacas gordas de carne e formosas de vista, e pastavam no prado. E eis que outras sete vacas subiam após estas, magras e muito feias de vista, e fracas de carne; não tenho visto outras semelhantes em fealdade em toda a terra do Egipto. E as vacas fracas e feias comiam as primeiras sete vacas gordas.
Génesis 41, 17-20

Fico surpreendidíssimo por ver como as vacas avançavam, uma atrás das outras, se encostavam ao robot e se sentiam deliciadas enquanto ele, durante cerca de seis, sete minutos, realizava a ordenha.

Aníbal Cavaco Silva, Vila-Meã, 3 de Outubro de 2008

Afinal, não há motivos para pânico. O presidencial economista Aníbal Cavaco Silva, o das vacas magras, num raro momento de inspiração, em que balança entre a fina agudeza discursiva do seu antecessor Américo Tomás e o rústico e resvaladiço palanfrório de pendor lúbrico do Quim Barreiros, contou a parábola das vacas deliciadas, tranquilizando os portugueses, ao partilhar com eles a sua visão das vacas gordas e felizes dos tempos que correm. Crise? Qual crise?

Magalhães: Falsa Fuga

Entre afectos e desafectos, houve quem esfregasse as mãos e afiasse o dente, já tirando as medidas à cadeira presidencial, assim que começou a correr por aí que Magalhães se havia perdido por causa de uma certa La Niña e se tinha mudado, súbita e surpreendentemente, para outras paragens. Houve mesmo quem assegurasse que chegou a ser visto nas praias de São Salvador da Bahia de Todos os Santos.

Porém, com base em fontes geralmente bem informadas, estamos em condições de esclarecer que há mais Magalhães à face da terra e que o de cá está bem adaptado ao clima local, que lhe tem sido muito propício, não fazendo tenções de se ir embora tão cedo.

sábado, 4 de outubro de 2008

(Quase) Toda a Verdade Sobre o Registo das Nicolinas

Esta coisa do registo da propriedade industrial da marca Nicolinas pareceu-me muito esquisita. Como sou curioso, depois de ter lido que "o registo da marca “Nicolinas” foi obtido pela associação Tertúlia Nicolina que, deste modo, concede às Festas Nicolinas mais um mecanismo de salvaguarda da secular tradição", fui ver como pode ser possível alguém registar uma festa tradicional centenária como sua propriedade industrial.

Primeiro, precisava de saber o que se entende quando se fala numa ‘marca’. Fui procurar quem sabe, e bati à porta do Instituto Nacional de Propriedade Industrial. Foi lá que li o seguinte:

“A marca é um sinal que identifica no mercado os produtos ou serviços de uma empresa, distinguindo-os dos de outras empresas.

“Se a marca for registada, passa o seu titular a deter um exclusivo que lhe confere o direito de impedir que terceiros utilizem, sem o seu consentimento, sinal igual ou semelhante, em produtos ou serviços idênticos ou afins (ou seja, o registo permite, nomeadamente, reagir contra imitações).

“Atenção! Em princípio, o registo apenas protege a marca relativamente aos produtos e aos serviços especificados no pedido de registo (ou a produtos ou serviços afins).”


Sendo assim, faltava saber que produtos e serviços teriam sido registados pela Tertúlia Nicolina, para serem comercializados sob a marca Nicolinas. Pedi o processo, que logo me foi apresentado. O pedido de registo da marca nacional n.º 424364 foi entregue no dia 19 de Novembro do ano antes deste, por um senhor do Porto, para as classes 24 e 35 da classificação de Nice. Teve uma primeira publicação no Boletim de Patentes Industriais no dia 7 do mês seguinte. Fui ler. E descobri coisas fantásticas. Que o Convento das Dominicas fica em São Tomé da Abação, por exemplo. E que a marca Nicolinas está protegida, por despacho de 20 de Fevereiro de 2008, em relação aos seguintes produtos:

Tecidos e produtos têxteis não incluídos noutras classes; coberturas de cama e de mesa (Classe 24).

e aos seguintes serviços

Publicidade; gestão de negócios comerciais; administração comercial; trabalhos de escritório (Classe 35).

Pergunto eu: o que é que as Nicolinas têm a ver com aquelas tralhas?

Conclusão: as festas Nicolinas continuam a ser de quem sempre foram: dos nicolinos e dos vimaranenses. E os senhores da Tertúlia Nicolina vão mudar de vida e passar a gerir negócios comerciais relacionados com a produção de coberturas de cama e mesa. Fica-lhes muito bem.

Razão tinha o Aldo Nim quando, aí abaixo, disse que o tal registo das Nicolinas só podia ser piada. Confesso que me fartei de rir com o que descobri.

São uns grandes cómicos, os cucos das Dominicas. Muito bons para o fígado.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Os Cucos das Dominicas

O cuco é uma ave parasita. Como, por preguiça ou imperícia, nunca construiu o seu próprio ninho, deposita os seus ovos nas moradas de outras aves. Foi deste passaroco que me lembrei assim que comecei a ler um bilhete que ainda agora meteram na caixa de correio do Café Toural.

Li:

“A designação “Nicolinas” já se encontra protegida ao abrigo do direito da propriedade industrial, impedindo-se assim a sua utilização abusiva e o eventual registo por entidades não Nicolinas ou estranhas às Festas.

O registo da marca “Nicolinas” foi obtido pela associação Tertúlia Nicolina (…).

Em ali chegando, não consegui conter o meu espanto. Propriedade industrial? Industriais, as Nicolinas? Mas que merda* é esta? Com que direito estes senhores registaram algo que não inventaram, que não adquiriram e que não lhes pertence? Não é isto apropriação indevida? Como é possível alguém registar um bem que pertence ao património colectivo?

Só pode ser piada.

De péssimo gosto.

______________________

*Peço perdão do mau odor da palavra, mas uso-a antes que alguém registe a patente da trampa.

sábado, 27 de setembro de 2008

Afonso Henriques e a Baguete

À venda no Café Toural (várias cores e todos os tamanhos)

Hoje dei comigo a reflectir acerca da natureza flutuante das nossas convicções. Mesmo as mais firmes, mais tarde ou mais cedo, às vezes logo, vacilam e são esmagadas pela falta de coerência, pela duplicidade e pela bivalência que estão subjacentes ao ápodo das duas caras que nos foi lançado, como uma maldição, por mentes malévolas e, porventura, um tudo-nada mal-intencionadas.

Veio esta reflexão depois de ter tido a desdita de ler, num jornal cá da terra, um senhor que exsuda opiniões, convicções e certezas, comparar o nosso bem-amado Dom Afonso Henriques, entre outras coisas, a sapatos, a chocolates, a vinhos, a relógio e às nojentas baguetes, daquelas que os franceses costumam carregar debaixo dos sovacos. Naturalmente, fiquei irado. Senti uma indignação irreprimível tomar conta de mim e congestionar-me as meninges. Enrubesci e, ao enrubescer, afogueei-me, chegando mesmo a avermelhar. Saí à rua, decidido a procurar o desbocado autor de tão insidiosas comparações e a fazê-lo engolir os dentes e as comparações.

Passos não eram dados, começou a manifestar-se o meu irrefreável carácter dúplice: pensando bem, aquilo é capaz de não estar assim tão mal achado. Afonso Henriques até pode dar um produto com muita saída. Já era o meu coração tilintante a funcionar.

Logo comecei a ter a visão de cifrões esvoaçantes sobre o Paço dos Duques, enquanto ia subindo a Muralha. Um produto? Não. Porquê pensar pequeno? Muitos produtos. Todos os produtos. Todos com a marca Afonso Henriques. A marca que nos fica bem, como dizia o outro, com uma preocupação não meramente sentimental, mas fundamentalmente comercial (e disse-o: não teve vergonha de o dizer).

Logo comecei a antever um futuro venturoso e próspero, com os vimaranenses a abandonarem tudo para irem vender o Afonso Henriques, é pró menino e prá menina, venha cá freguês, pague dois e leve três. Na farmácia: arranja-se alguma coisa para um problema de caspa? Problema? Já não é problema: depois de três aplicações da loção Afonso Henriques, vai-se a caspa e ainda ganha um cabelo brilhante e volumoso como o da Penelope Cruz. Na pastelaria: que deseja, minha senhora? Cento e cinquenta gramas de Afonso Henriques, mas cortado fininho, por favor. No Ferreira da Cunha: mostra-me pés-de-cabra, por favor. Pés-de-cabra? Isso já não se usa, homem. Agora, só vendemos Afonso Henriques. É muito melhor do que um pé-de-cabra e ainda serve para coçar as costas.

Já vejo Guimarães inundada de merchandising afonsenriquino: porta-chaves, cinzeiros, esferográficas, bonés, toalhas de praia, aventais, pins, bandeirinhas, pratos, cachecóis, guardanapos, papel higiénico. Tudo recuerdos de Afonso Henriques para turista comprar. E já pressinto, multidões de vimaranenses de todas as idades a ostentarem garbosamente sobre seus peitos a frase I love Afonso Henriques (que, lamentavelmente, em certos troncos espadaúdos, poderá soar com uma entoação insidiosamente ambígua e vagamente gay).

E a marca Afonso Henriques trará consigo, se não o choque tecnológico, as novas oportunidades da gastronomia vimaranense, que ganhará um novo e imparável ímpeto. Já adivinho Afonso Henriques em todas as ementas: não faltarão os bifes à Afonso Henriques (de vaca galega em sangue, sobre cama de erva mourisca, com crocante de trigo-sarraceno), nem as favas à Afonso Henriques (com chouriço mouro), nem tão-pouco as postas de pescada acaralhadas à Afonso Henriques (receita original da Adega dos Caquinhos). No tocante às sobremesas, abrir-se-á um vasto e promissor território a desbravar, onde certamente constarão, entre tantas outras iguarias, as raivas de Viseu e os suspiros de Coimbra. E o vinho da casa, em todas as casas, terá uma marca: “Terras de Dom Afonso”.

E já imaginava o apregoar das maravilhas das pílulas Afonso Henriques, o “viagra do Minho”, quando, ao subir a rua do Beringel, uma simpática e desdentada senhora se aproximou de mim e me disse:

“Ò Honoré, vais com um ar tão caidinho que deves estar mesmo em necessidade. Anda daí, homem, que eu faço-te um Afonso Henriques e ainda te dou um desconto”.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

O Nosso Bairro de Barracas

«Se me lembrasse de dar uma festa de grande opulência no meio de um bairro de barracas seria uma enorme afronta a quem lá vivia» e foi isso «que o primeiro-ministro fez».

Manuela Ferreira Leite dixit, a propósito do comício de rentrée de Sócrates em Guimarães. Braga (onde mais podia ser?), 25 de Setembro de 2008. Via TSF: Sócrates fez grande festa num «bairro de barracas», diz Ferreira Leite

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Magalhães é que está a dar...


REVISTA DE IMPRENSA


Magalhães é que está a dar...
Tudo o resto, que se passa pelo país, não interessa.
Magalhães envolto em polémica
Ponte da Barca ou Sabrosa? Qual é, afinal, a sua terra de origem?

Contactado pela Lusa, Alexandre Parafita, escritor natural de Sabrosa, doutorado em Cultura Portuguesa, afirmou que, em Portugal, além de Sabrosa e Ponte da Barca também o Porto reclama a naturalidade de Magalhães.

[Não percebo a controvérsia: toda a gente sabe que o Magalhães é de Cavês.]

Magalhães exportado para a Venezuela
Apesar de considerar a iniciativa de trazer o Magalhães para o país como sendo positiva, os meios de comunicação criticam o Governo de Hugo Chávez por, em vez de criar uma empresa nacional, optar por criar "outra empresa mista, com os portugueses".

Contente com o Magalhães, mas…
"Estou contente com o Magalhães, mas não gosto do nome que lhe puseram, é feio", confessa Mariana, que encontrou ainda outro defeito: "Também não gosto desta asa".

O Magalhães ao alcance de todas as bolsas
A FNAC vai começar a vender o Magalhães à meia-noite de dia 26 de Setembro, por 285 euros.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Também Quero Uma

O Antunes já tem uma Câmara. Também vou querer uma para mim.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Para Acabar de Vez Com Todas as Perguntas

Fugimos. Mas não foi por causa do carjacking. Nem da violência doméstica. Nem dos raptos de caixas de multibanco. Nem do Verão que não o quis ser. Nem sequer das Gualterianas ou da falência do Lehman Brothers. É certo: não tivemos outro remédio senão esconder-nos dos olhares inquisitoriais. Passamos a andar anónimos, incógnitos, encobertos. Já estávamos fartos. Cansados. Moídos. Enfadadados. Já não aguentávamos mais as mesmas perguntas irritantes e já nos falhava a inventiva para mais meias respostas. Arre! Não, não sabemos nada da Capital Europeia da Cultura! Ponto final. Agora, temos colocadas as nossas melhores esperanças no acelerador de partículas do CERN. Pois que acelere e que acelere muito, porque, acelerando a preceito, isto ainda acaba antes de 2012. E a avó do outro já vai dizendo, num entre dentes falheiro de dentes: antes o fim do Mundo do que a desonra ou a vergonha. Venha, pois, o big bang, porque o buraco negro já cá mora: é a CEC, que, ao que vemos, mas não ouvimos, já foi engolida por um silêncio tão espesso, tão imenso e tão silencioso que só pode ser augúrio de coisa ruim ou muito pior.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Ideias de Macaco

Eu, que sou de lento perceber, já percebi há muito que o futebol é uma modalidade que se pratica com os pés e que, não raras vezes, é dirigida por gente de dúbia direitura, porém nada inocente. Ao ver o Vitória a afectar uma pose mafiosa, inspirada na iconografia da Camorra, da Cosa Nostra ou da 'Ngrangheta, com o treinador a surgir travestido de Al Capone desgrenhado e pífio, fico um tanto ou quanto confuso. E ponho-me a pensar: será que, além de jogado com os pés, o futebol é dirigido por criaturas que pensam com os chispes?

Outros fossem os tempos, e já o invertebrado que teve a luminosa ideia de campanha tão descabelada teria recebido a justa recompensa por tamanha iluminação. No mínimo, já lhe tinham feito uma barrela em pleno Toural, com direito a banho de mergulho na fonte.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Obama? Qual Obama?

Antes de desaparecer da circulação, depois de uma violenta discussão aqui no Café, que acabou com o Honoré de Balazar a proclamar, aos berros, ensandecido e terminante: "De ti, meu caro Pedro dos Leitões, já nada me surpreende". Foi-se embora a resmonear entre dentes: "Ai não? Espera aí, que eu já te digo". Nunca mais lhe pus os olhos em cima. Até que mão anónima me fez chegar uma cassete VHS com o filme que vai aí abaixo (confesso que tive alguma dificuldade em escrever estas mal traçadas linhas, porque o meu queixo atónito teimava em cair-me em cima do teclado.)


[Se começou a ver o vídeo, será melhor que o veja até ao fim.]

segunda-feira, 7 de julho de 2008

O surrealismo acontece...

Foi há duas sextas-feiras, aliás, madrugadas de sábado, no dia 28.6.2008, que encontrei Olaf ao final de um evento dançante na nossa querida cidade.
Por entre os diversos vapores etílicos que ambos destilávamos, então, encetámos um monólogo em que Olaf discorreu sobre o conceito de "pátria naturalística" e outros momentos de profunda análise etimológica e exímia exegese cultural.
A páginas tantas, atirou: oh, Martinho, não tenho gostado nada das postas que andas a mandar lá no Café... Mão na consciência, se a tivesse, faço aqui o meu mui sentido mea culpa...
Tratarei de o remediar em breve, assim que termine de defecar sobre tudo o que o meu interlocutor me transmitiu nessa alvorada, entre copos de cevada maltada, previamente fermentada. Fica a promessa!
À saída um agente da autoridade, em trânsito, registou o amplexo fraternal com que, após a profunda discussão, reafirmámos o afecto, na hora da despedida:



É com amizades destas que se desconstrói o objectivismo pardacento. Bem hajas, oh de Oleiros!

domingo, 6 de julho de 2008

A Propósito dos Atrancamentos, Um Sinal Contra o Acordo Linguístico


Antigamente, o dia dos atrancamentos era na véspera do S. Pedro. Os rapazes da aldeia larapiavam tralhas de todo o género e atrancavam os caminhos com elas. Foi esta prática muito antiga a fonte de inspiração das solenes roubalheiras dos nossos nicolinos. Em tempo bem mais recente, também foi aí que foram beber os nossos imaginativos industriais de comes & bebes para introduzirem essa novíssima tradição de atrancarem a via pública, a seu bel-prazer, com mesas, cadeiras e guarda-sóis.

Ainda ontem, sábado, já no lusco-fusco do sol posto, como estava de telha, resolvi socializar com umas simpáticas e dadivosas moçoilas originárias das terras de Vera Cruz, que sociliazam generosamente no Paris, Night-Club, aberto das 14 às 4 da matina na nossa única avenida digna de ostentar o nome do primeiro rei. Descida a Avenida até meio, e apesar do adiantado da hora (Paris já devia estar aberta há pelo menos umas 7), dei com o nariz na porta. Como não sou homem para desistir perante o primeiro obstáculo, pus pés ao caminho e resolvi descer o resto da magnífica artéria, com seu plátanos frondosos, em direcção à Caldeiroa, na esperança de socializar, em perfeita lusofonia, na Tasca da Perigosa.

Ia eu a modos que mergulhado nos meus pensamentos, em profunda meditação transcendental, quando colidi, de maneira violenta, lastimável e dolorosa, com objecto até aí não identificado estacionado no passeio. O que se passou a seguir decorreu numa fracção de segundos que durou, aproximadamente, uma eternidade. Tinha acabado de esmurrar o joelho direito contra uma mesa, ali plantada com seu par de cadeirinhas, em frente à montra de uma pastelaria com nome de flor promovida a casa de pasto. Sem que tivesse tempo de dizer um ai!, senti o meu olho esquerdo vazado pela vareta do guarda-sol que protegia, sob sua copa magnífica, os eventuais utentes de mesa e cadeiras da memória dos ardores do Sol, que por ali passa de manhã. A dor, aguda e cruciante, induziu-me a pronunciar uma carreirada de expressões, no mais perfeito calão carroceiro de que sou capaz, que aqui não reproduzirei para não chocar os leitores, que sei sensíveis, mimosos e de educação esmerada. Estava eu ainda a admirar o magnífico céu negro e estrelado que se abriu à frente dos meus olhos, quando ouvi alguém aos berros, verbalizando o que eu tinha calado para poupar os leitores:

- Ai os meus colhões! Foda-se, puta que pariu, esta merda dói pra caralho!

Abri o olho direito e vi um senhor aninhado no chão, agarrado aos baixios do vente e a urrar como um boi à entrada no matadouro. Ao cair, a ponteira do guarda-sol tinha ido embater nas suas partes mais dolorosas.

Acabei a noite, mais o meu parceiro de infortúnio, nas urgências do Hospital, de onde acabo de sair com um olho à belenenses e um imenso nevoeiro no hemisfério esquerdo. Dizem os médicos que, com o tempo e umas gotas de colírio, o meu olho recuperará a plenitude da sua função. Já quanto à função das partes do outro infausto senhor, o diagnóstico foi bem mais reservado.

sábado, 5 de julho de 2008

A Minha Teoria da Conspiração ou da Cautela e dos Caldos de Galinha


Se, a certa altura, alguém se lembra de começar a espalhar por aí uns escritos canhestros onde lê, entre outras coisas que eu julgava bem piores, “O Aldo Nim é comuna”, e se, logo a seguir, se começam a erguer vozes sinistras que incitam à expulsão de Guimarães dos “cumunas”, tenho motivos de sobra para me sentir sob ameaça. Por isso, e porque não sou menos do que tu, Carolina, nem do que a viúva do Berto Maluco, nem do que a chama olímpica, acabo de requerer protecção ao Corpo de Segurança Pessoal da PSP.

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Diz Que...

...há pr' aí uns marotos que são uns troca-tintas, perdão: uns troca quintas.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Desportivismo e Chávenas Voadoras

Sempre me pareceu que, quando se lhes tocava na corda do bairrismo, os nossos idolatrados vizinhos, os que deixam sempre a porta aberta, revelavam escasso sentido de humor e nenhum fair-play. Afinal, enganei-me pela metade, quanto à idiossincrasia dos bragueses: fair-play não têm, mas têm alguma queda para um humor vagamente british, a resvalar para o nonsense.

Também têm falta de chá. As chávenas é que pagam.

domingo, 29 de junho de 2008

Última Hora: Vitória Contrata Grilo Falante


Senhoras e senhoras, eis José Marinho, na primeira pessoa:

“Inicio aqui uma colaboração com o Eterno Benfica que coincide com a minha renúncia ao jornalismo. Após vinte e cinco anos atrás das ideias dos outros, acho que chegou a altura de construir o meu próprio património ideológico. Faço-o nesta altura em que ainda desconheço o que farei no futuro para manter bem alimentadas as duas pequenas bocas que tenho em casa, mas que gritam desde a sua nascença pelo mesmo refrão que forrou a minha ascendência futebolística: «slb, slb, slb, glorioso slb, glorioso slb».”

“Dizem os meus amigos mais chegados – benfiquistas claro, de outro modo não seriam os mais chegados (…).”

“Em tudo na vida, eu digo, não contradigo, eu faço, não desfaço, eu monto, não desmonto. Em suma, eu sou público, não sou anónimo.”

"Há pessoas que comem, comem, comem e nunca engordam e há outras que comem pouco e continuam a engordar, assim como há jogadores que precisam de muitas oportunidades para fazer um golo e outros que uma chega."

“Este Barcelona parece que está a sofrer de jet lag por antecipação."

"O Boavista é um novo monstro do futebol português que vai nascendo todos os dias um pouco!”

"Henry não é um homem, é uma manada!"



Ainda há dias era dado como certo no clube do Bartolomeu das margens do Lis. Antes, tinha estado com os dois pés na cidade dos arcebispos. Cá para nós, até seria engraçado, mas a notícia logo levantou ferocíssima açougada entre os adeptos bragueses, que, desdenhando da felicidade com que seriam insuflados, logo desataram a praguejar, em linguagem muito mimosa e aprimorada. Aqui ficam algumas citações da algaraviada, com a devida vénia:

“***** que pariu! Será que neste clube alguém tem cabeça para pensar?”

“Este gajo é aquele esticadinho magricelas de cabeça pequenina que só dizia disparates durante os jogos que comentava. Um Gabriel Alves pouco original, e muito artificial.”

“O que é que o gajo vem para aqui fazer?? deve ser para fazer concorrência ao Manuel Machado, porque quem acompanha os jogos na sportv narrados por este gajo sabe que ele tem uma linguagem ao nível do "machadês", ou até mais erudita.”

Por desgraça, ao que consta porque abriu a boca demais na hora de falar no vil metal, o ex-locutor pernóstico não ingressou no Arsenal dos Pequeninos. Para nós, esta foi uma notória adversidade, mas, afinal, ainda havia de ser pior. Chutado para canto em Braga, veio ter a Guimarães aos rebolões.

A coisa parece irreversível, sendo certo que o contratado, em matéria de verborreia e palavrosidade, encaixa na perfeição em certa tradição vitoriana, dando continuidade à linha linguística, ou até mais erudita, que teve na dupla Pimenta & Machado os dois principais cultivadores.

É provável que, ao contratar tão prolixo palrador para chefe do gabinete de comunicação, o Vitória esteja a pagar o suficiente, não para um homem, mas para sustentar uma manada, mas, cá por mim, aplaudo, com pés e mãos, esta contratação. Não porque me pareça que a imagem do Vitória tenha alguma coisa a ganhar com o contributo comunicacional deste amigo do José Veiga, mas porque tenho cá uma fé de que trará algum benefício aos nossos nem sempre bem tratados fígados.

sábado, 28 de junho de 2008

Onde É Que Assino?


Pois se a troco de Carlos, Rei de França,
Ou de César, quereis igual memória,
Vede o primeiro Afonso, cuja lança
Escura faz qualquer estranha glória
Os Lusíadas, I, 13, 97-100

No dia 24 de Junho de 1128, depois de desbaratar a mãe e os galegos na célebre refrega que ficaria conhecida para a posteridade como a Batalha de S. Mamede, o jovem Afonso Henriques fez uma entrada triunfal na vila de Guimarães, subindo a rua de Camões à frente das suas tropas. Terá sido aí que, pela primeira vez, se ergueram vozes que o aclamavam como rei de Portugal, um país que ainda haveria de nascer. Como, na altura, o rigor do registo civil era bem menos apertado do que hoje, o jovem guerreiro decidiu perpetuar esse dia memorável no seu próprio nome, que passou a ser Luís Afonso Henriques de Camões.

Mais tarde, aquele que seria o nosso primeiro rei-poeta, construído o país, ainda teria tempo para escrever uma obra sublime, Os Lusíadas, na qual narrou, em decassílabos heróicos, a sua gesta, assim como a dos reis que se lhe seguiram pelos séculos adiante. Estes factos acabariam por cair na penumbra do esquecimento e a obra-prima da literatura lusa, por ele obrada, acabaria por ser atribuída, séculos mais tarde, a um outro Luís de Camões, do qual pouco se sabe para além de que se finou no dia 10 de Junho de 1580.

Vejo agora que a verdade histórica está em vias de ser reposta, correndo uma petição ao governo e à Assembleia da República para que seja transferido para o dia 24 de Junho “o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas”.

A César, o que é de César. A Afonso o que não é de Camões.

Assino onde?

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Nota da Gerência

A Gerência informa todos os que atiram biscas para a caixa dos comentários que o Café Toural já eliminou, há muito, esse adereço grotesco, de esmalte branco e outrora muito em voga nos espaços públicos, conhecido por escarrador. Aqui, preservam-se a civilidade, as boas maneiras e a boa higiene.

Em local bem visível, temos afixada uma placa com o aviso seguinte:

“Avisam-se todos os nossos clientes que a tabuleta onde se lê RESERVADO O DIREITO DE ADMISSÃO tem uma função meramente decorativa. Neste café pratica-se a liberdade de expressão, absoluta até certo ponto. Qual ponto? É o que falta saber.”

A Gerência informa que, neste momento, já sabe qual é o tal ponto

O ponto não é o que se diz: aqui, cada um é inteiramente livre de dizer o que muito bem entender.

O ponto é o como se diz: quem aqui atira postas tem que saber dar bom uso à língua e afagar as palavras com meiguice, desvelo e delicadeza, o que manifestamente não tem sucedido com certo(s) quadrúpede(s) que, nestes últimos dias, se têm entretido a conspurcar as caixas de comentários.

Este é um princípio de que não prescindimos. Damos de barato o conteúdo, mas atribuímos um valor inestimável à forma.

Sim, somos libertários. Mas, antes de tudo, somos estetas irredutíveis.

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Diz que...

...há pr' aí uns marotos que gostam de ir passar férias a Vila Nova de Cerveira...

quarta-feira, 25 de junho de 2008

terça-feira, 24 de junho de 2008

24 de Junho Visto Por José Mattoso


José Mattoso

24 de Junho de 1128

Todos os anos, por esta altura, sinto algo que vai para além do cheiro a sardinha assada, algo que vai para além das dúvidas que pairam sobre a naturalidade de D. Afonso Henriques, algo que vai para além de ideias estapafúrdias de quem governa e da oposição (por exemplo construir um parque de estacionamento no Toural ou fazer a “Casa da Memória” no Castelo). Mas afinal o que sinto eu, pobre provinciano de Oleiros, pobre urso da ilha do mesmo nome?

Agora fora de brincadeiras:

Nesta data sinto por um lado um imenso orgulho, por outro, uma profunda tristeza.

Comecemos pela tristeza que, apesar de ser um sentimento menos concreto, neste caso é mais fácil de explicar. A minha tristeza prende-se em primeiro lugar com o facto de há 880 anos termos feito algo que é inigualável e de sermos uma cidade condenada a nunca poder repetir tal feito, pois nada do que se possa alguma vez conceber igualará a “Primeira Tarde Portuguesa”. Em segundo lugar entristece-me ver esta data ser muitas vezes ignorada pelos mais jovens (que a confundem com um santo qualquer) e, muito pior do que isso, entristece-me ver esta data utilizada como arma de arremesso político (pelos mais diversos motivos) numa cidade em que todos temos culpa de esta data não ser celebrada e recordada como devia ser…

Passemos agora ao orgulho, esse sentimento que parece começar a desaparecer do imaginário português ou, pior do que isso, a ser desvirtuado por razões que de momento não interessa referir. Falemos agora do enorme orgulho que é sabermos que, há muito tempo atrás, nesta nossa Guimarães, se fez Portugal. Sim, meus caros compatriotas vimaranenses, fomos nós que construímos este país! Orgulhemo-nos disso como o nosso maior feito! Orgulhemo-nos de termos feito algo que sendo nosso logo se transformou em Portugal inteiro!

Chegou a hora de fazermos deste “nosso” acontecimento aquilo que ele verdadeiramente é: O acontecimento nacional!

terça-feira, 10 de junho de 2008

A Raça Dominante

“Hoje eu tenho de sublinhar, acima de tudo, a raça, o dia da raça”.

Aníbal Cavaco Silva, na véspera do 10 de Junho de 2008



Raça s.f. : divisão tradicional e arbitrária dos grupos humanos, determinada pelo conjunto de caracteres físicos hereditários (cor da pele, formato da cabeça, tipo de cabelo, etc.).


Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa

quinta-feira, 29 de maio de 2008

Separados à nascença?


António Guterres, Alto Comissário para os Refugiados, ONU.



Mulher sentada num banco, Feira de Barcelona (imagem de Graf & Co.).

terça-feira, 13 de maio de 2008

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Toda a Verdade Sobre o Guimarães das Duas Caras

A propósito da estátua do Guimarães que toma conta da praça da Oliveira, muito se tem dito em desabono do carácter dos vimaranenses. Que temos duas caras, dizem por aí alguns à boca pequena, o mesmo que outros dizem à boca grande. Para dourar a pílula, houve quem lançasse mão a uma patranha mui mal amanhada, na qual se misturam barcelenses em retirada na conquista de Ceuta com vereadores de vassoura na mão e barrete vermelho na cabeça. A verdadeira história daquela estátua, com as suas duas caras, é bem diferente e eu vou contá-la.


Era em Suaken, no sul de Marrocos, no ano de 1578, quarto dia do mês de Agosto, em que se travava a para sempre memorável e trágica batalha de al-Kasr al-Kebir. A peleja ia rija, com os ventos a correrem de feição às hostes portugueses, quando começa a correr a notícia de que sultão Mulei Maluco tinha sido varado por um tiro, indo entregar a alma a Mafamede. Já os gritos de vitória! vitória! vitória!* atroavam, em uníssono, nos céus marroquinos, quando os súbditos de D. Sebastião foram apanhados de surpresa pela inopinada arremetida da infantaria mourisca, saída de onde só Mafoma sabia.

Do que se passou a seguir, os relatos não coincidem.

Dizem uns que se escutaram incitamentos à resistência:

Ter! Ter!

Outros contaram que os gritos que se ouviram ordenavam a retirada:

Retira! Retira!

Por último, há quem garanta que a ordem não era para resistir, nem para retirar, mas sim para regressar (mas ninguém soube dizer para onde):

Volta! Volta!

O que parece certo é que todos os relatos estavam dentro da verdade e que todos aqueles gritos ecoaram em simultâneo. As vozes misturavam-se, pois, vindas de todas as direcções:

Ter! ter! Volta! Volta! Retira! Retira!

Os que se acharam naquela babel ficaram, naturalmente, confundidos, baralhados e, até mesmo, algo indecisos. O caos e a desordem instalaram-se entre as hostes de Sebastião. Com tanta balbúrdia e tamanho alvoroço, as tropas portuguesas logo se viram cercadas e vindimadas pela arcabuzaria sarracena. E então, as areias quentes de al-Kasr al-Kebir tingiram-se de vermelho, lavadas pelo sangue dos portugueses.

Com a derrota eminente, narram as crónicas que apenas Sebastião e um pequeno grupo de homens resistiam. Ficaram para a História as palavras de D. João de Portugal:

Que pode haver aqui que fazer, senão morrermos todos?

Muito se tem escrito sobre o sentido da resposta que então lhe deu D. Sebastião:

Morrer, sim, mas devagar!

O que sucedeu a seguir é um mistério que, até ao dia de hoje, ficou por contar.

A certa altura, levantou-se um vento agreste e sufocante, fazendo cair sobre al-Kasr al-Kebir uma névoa seca e espessa, um limometeoro, enfim, uma tempestade de areia. D. Sebastião, que não tinha vontade de morrer depressa, aproveitou o ensejo para abandonar o campo de batalha, acompanhado apenas por sete dos fidalgos que o acompanhavam. Entre os que seguiram o rei fugitivo, ia um Baltazar Pacheco de Alcoforado, a quem, segundo uso militar antiquíssimo, chamavam o Guimarães, por ser natural desta santa terra.

Seguiram rumo ao Sul, pelas quentes e secas areias do Saara, escondendo-se nos dias claros e tórridos daquele Agosto quinhentista, caminhando nas noites gélidas, com os seus passos guiados pela linha do mar e pela cintilação das estrelas. Entre eles, já não havia rei, nem súbditos, todos eram iguais: cansados, esfomeados, sequiosos e fugitivos. Não se sabe quantos dias andaram nesta retirada. No limite das forças, tiveram de tomar uma decisão dramática, empurrada pelo instinto de sobrevivência. Precisavam de comer, mas não tinham o quê. Decidiram que um deles seria sacrificado, para que os outros se pudessem salvar. Tiraram as sortes, e a mais aziaga calhou ao rei. De nada lhe adiantou invocar a sua majestade nem o direito divino. Foi esquartejado e repartido entre os sobreviventes, que se banquetearam com as carnagens reais.

Mais uma vez, como tantas outras, o destino zombou dos homens. Por uma estranha ironia, quando ainda estavam mergulhado no torpor pós-prandial que os atacou depois de tão extraordinária refeição, avistaram ao longe uma nau, que só podia ser portuguesa. Correram à praia, acenando, furiosos, com a bandeira real que um deles tivera a lembrança de trazer consigo.

Foi assim que se viram de regresso a Portugal. Antes de embarcarem, juraram guardar segredo quanto ao acontecido com o rei D. Sebastião, o qual lhes poderia ter sabido bem melhor, tivessem eles sal e pimenta.

Como a tragédia daqueles homens parecia não ter fim, quando já chegavam a Lisboa, depois de atravessarem todo aquele mar, levantou-se tamanha tempestade, que fez o navio naufragar. Nenhum deles se salvou, a não ser o Guimarães, que deu à costa na praia de Carcavelos.

Em Guimarães, Baltazar Alcoforado foi recebido como um herói. Era ele, afinal, um estóico sobrevivente de uma aventura insana cujas consequências Portugal pagaria com a sua própria independência. Nunca contou a ninguém a verdade do que se tinha passado com ele naquela praia da Mauritânia.

A ninguém, excepto ao padre Inácio Laranjo, claro, mas foi como se o não tivesse contado, posto que o assunto ficou resguardado por segredo de confissão.

Quando morreu, decidiram fazer uma estátua que perpetuasse a memória daquele herói vimaranense. Na altura, alguns estranharam o alvitre insistente e enigmático do Padre Inácio, homem que tinha tanto, ou menos, de piedoso como de gaiteiro, para que o representassem com uma cara na barriga. O mestre-pedreiro não viu nenhum mal na pilhéria, e fez-lhe a vontade.

E lá ficou o Guimarães, para a posteridade, imponente, sereno e majestoso.

Ao contrário do que por aí dizem, não tem duas caras. Mas tem o rei na barriga.

*Grito que os vimaranenses repetirão tantas vezes, séculos mais tarde, mesmo quando o barco se afunda.

terça-feira, 29 de abril de 2008

A Província

As leituras dos jornais deixam-nos muitas vezes espantados. Tal como o meu caríssimo companheiro de café (Honoré), fiquei perplexo por saber que na Guimarães Capital Europeia da Cultura, se vai gastar um pouco mais do que se gastou com a Casa da Música. Afinal, como é possível gastar-se mais a requalificar dez hectares de uma cidade de província do que a construir um edifício no cosmopolita Porto?

Muito tenho reflectido sobre a nossa condição de “província”. Realmente estamos muito longe de tudo o que possa ser vagamente urbano. Estamos a 30 minutos do Porto, a 2h de Vigo, a 3h de Lisboa e a 5h de Madrid. Contudo, o nosso ego põe-nos a 0 minutos do centro do mundo, pois este é o local onde nós gostamos de viver, ainda que esse local seja na “província” e que a nossa vontade seja “provinciana”.

Após estas reflexões algo descabidas, soube de uma notícia que muito me agradou: os 15000 habitantes de Alcântara vão ver, também em 2012, a sua freguesia requalificada com um investimento de 600 milhões de euros.Finalmente uma cifra digna de uma Capital d’Império! A minha satisfação prende-se com o facto de saber que Lisboa está já livre dos problemas que assolam as cidades comuns (bairros sociais, degradação de edifícios históricos, etc) e que ainda não se encontra suficientemente endividada para se desviar do encantador caminho dos mega investimentos!

Também fiquei imensamente feliz por saber que a nossa cidade não tinha sido contemplada com uma verba excessiva para 2012 e que (apesar de GMR20012 poder vir a vergonhosamente superar o custo da Casa da Música) o país ganhou bom senso e decidiu pôr o dinheiro no seu devido lugar: Alcântara.

E assim corre o tempo numa das províncias mais pobres da Europa: o nosso belo Portugal.

domingo, 27 de abril de 2008

Quando Tanto É Muito, Mais Pode Ser Pouco

O meu exercício quase diário de leitura dos jornais costuma resumir-se a uma passagem de olhos pelas primeiras páginas, à porta do quiosque Cuca. Quem, como eu, das notícias já não consegue passar dos títulos, não raramente fica baralhado. Muitas vezes, lendo as gordas, percebe-se que os acontecimentos acontecem de maneira radicalmente diferente, em função dos jornais que narram o acontecido. Nada de anormal: cada um gosta de contar os contos à sua maneira, acrescentando-lhe cada qual tempero a gosto. Agora, se o mesmo jornal, no mesmo dia, em dois títulos que remetem para a mesma notícia, diz coisas diferentes, já acho um pouco estranho. É assim no Público de hoje. No rodapé da primeira página, apontando para a página 14, li o título: “Capital da Cultura / Guimarães vai custar mais do que a Casa da Música”. Tive um súbito assomo de vimaranensidade, fiquei em pulgas, quis saber mais, comprei o jornal, desfolhei-o até à página 14, li o título: “Capital Europeia da Cultura de 2012 vai custar tanto como a Casa da Música”. Fiquei confuso: vai custar mais do que? Ou vai custar tanto como? Entre o mais e o tanto, que diferença vai? Custando mais ou custando o mesmo, vai custar muito? ou vai custar pouco?

Depois de pensar um pouco, concluí que, se Guimarães só tivesse para gastar, com toda a festa de 2012, o mesmo que o Porto gastou com só um item do programa de 2001, isso não seria gastar pouco, seria um insulto. Não, não e não! Jamais poderíamos aceitar tal ultraje, tanto menosprezo, tamanha ofensa, semelhante agravo.

Depois de pensar mais um pouco, deu-me para fazer contas e fiquei com este sorriso quase obsceno, de orelha a orelha. A Casa da Música tinha um orçamento inicial de 16,25 milhões de euros e, no fim de contas, mais derrapagem, menos derrapagem, ficou por 100 milhões. Ultrapassou, portanto, mais de 6 vezes o orçamentado. Para Guimarães está previsto um orçamento de 111 milhões de euros. Acreditando que ninguém ousará impedir-nos de praticarmos um dos desportos nacionais predilectos, a derrapagem orçamental (quem poderia ousar?), e dando como adquirido que a Casa da Música será o nosso termo de comparação, temos o direito inalienável de aplicar o mesmo multiplicador ao orçamento inicial. Vamos, pois, gastar 683 milhões. Se a quantia não é estratosférica (diria mesmo que será um tanto ou quanto módica, se não modesta), sempre deve dar para umas dúzias de foguetes.

terça-feira, 22 de abril de 2008

Missão Cumprida

Agora cumpra-se o prometido: venha daí a medalha de ouro da cidade de Guimarães.

[Com Pedro dos Leitões]

sábado, 19 de abril de 2008

O Trogloditismo à Luz da Nova História da Bastardia

Com o rigor sociológico que costuma marcar as reportagens que publica sobre a nossa cidade, lá está na página 26 do Expresso(*) de hoje mais um notável retrato dos vimaranenses, que são apresentados, para não variar, como os maiores entre todos os grunhos do planeta Terra. Por lá passa uma cidade onde tudo pára por causa do pontapé na bola(**) e passam também um velhote com delirium tremens que se recusa a comer no Natal, por causa do Vitória, claro, um jovem advogado com nome de passarinho, que nunca mais se pós-gradua, porque falta às aulas para ir à bola, um gestor estalinista que proíbe a família de ir de férias enquanto durar a época futebolística, uma muito feminil claque de malucas, para quem o vitória é mais importante do que a família e, la cerise sur le gâteau, um inigualável decorador de interiores, de gosto fino e delicado, que vive numa das “zonas chiques” da cidade e que tem na sala “um pequeno templo dedicado ao clube”, que inclui uma, très chic, parede de azulejos, pintados à mão, com a imagem do estádio, uma toalha na mesa de jantar, chiquérrima, com o emblema do vitória a preto e branco e um estendal de cachecóis, de “todo o tipo” e com “frases bélicas”, pendurado no tecto, chique a valer. Foi pela voz de tão excelso artista que actualizei o meu conhecimento acerca do porquê dos bragueses chamarem espanhóis aos vimaranenses, em resposta ao carinhoso epíteto de marroquinos que lhes atiram do lado de cá: “os de Braga chamam de ‘espanhóis’ aos de Guimarães por serem descendentes de filhos bastardos da mãe de D. Afonso Henriques com castelhanos” (***). Li três vezes, assim como quem pergunta: “importa-se de repetir?”, para ver se estaria a ler bem. Afinal, vamos ter de reescrever a nossa história e a biografia da mãe de Afonso Henriques, e sua progenitura, além de refazer a nossa genealogia, à luz dos sábios ensinamentos do requintado, e esfuziante de chique, mestre de artes decorativas.

(*) Não, não é o incontornável Expresso do Ave. É aquele jornal que, se fosse vendido ao quilo, ainda saía mais caro. O Expresso simplesmente.

(**) Eu julgava que só parava a Assembleia Municipal. Reconheço-o, estava redondamente enganado.

(***) Eu julgava que era por causa de certo ex-presidente do Vitória, com quem a justiça anda agora a ajustar contas, por ele um dia ter ameaçado inscrever o clube na liga espanhola. Estava enganado redondamente, reconheço-o.