terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Do Preconceito e da Cor de Cabelo

A Finlandesa

«O seu raciocínio é: "Se é loira não pode ser ministra da Educação"» (Maria de Lurdes Rodrigues dixit, aos 25 de Fevereiro de 2008).

A Profecia da Capicua


Ou muito me engano ou o bando do Entrudo vimaranense de 1857, que encontrei aqui, foi soprado por certo sapateiro quinhentista das partes de Trancoso, que nos seus dias pelo nome de António Gonçalves Anes Bandarra. É dedicado aos da terra das frigideiras e de uns quantos pês que, nesse ano, por falta de diversão pela banda de lá (aqueles eram tempos em que a Bracalândia ainda não tinha sido inventada, nem desinventada), quiseram participar nas folias dos vimaranenses:

Os bracarenses a querer ter parte
(…)

(…)
Não digo que festa em Braga
É somente farelório,
Mas nem merece que em paga
Se aponte no reportório;
Vale tudo, bem pesado,
Trinta réis de mel coado.
(…)
Eis-nos pois na pátria vossa,
De gloriosas tradições,
Onde a névoa nunca engrossa,
Brilha gás nos lampiões,
E passeios e arvoredos
Convidam para os folguedos.
(…)

Ao ler a segunda sextilha que aí vai, não tive dúvidas de que este texto era uma premonição e um aviso, com exactamente 151 anos (notem bem a dimensão eminentemente profética da capicua). Passeios, lampiões, arvoredos, é do Toural que se fala, sem sombra de dúvida.

Felizmente, na pátria nossa, a névoa nunca engrossa, e o Toural jamais será uma tampa (com o perdão da palavra roubada, que é muito bem aplicada, mas não é minha).

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Estocada ou Não Estocada, Eis a Questão.

“Aquele que quer que lhe dêem, tem de dar.”
S. Pedro Crisólogo, Bispo de Ravena
*


1. Primeiro, li isto:

“Assim, sabendo-se como se sabe, do licenciamento em curso de algumas novas superfícies comerciais, todas elas apetrechadas com bons parques de estacionamento, é a altura mais do que oportuna para a Câmara apoiar o comércio tradicional.

[…]

Finalmente, mas não menos importante, uma requalificação do Toural sem parque de estacionamento, para além de significar a estocada final no comércio tradicional local, implicará necessariamente ser o nosso Município, isto é todos nós, a suportar os custos da referida intervenção. Pelo contrário, a concessão da concepção, construção e exploração de um parque de estacionamento no Toural significará, para além de uma ajuda primorosa e completa ao comércio local, um alívio completo na bolsa de todos, já que a entidade ganhadora suportará não só o custo do parque mas também de toda a intervenção nesse mesmo espaço.”

2. Depois, li mais isto:

O presidente da Associação Comercial e Industrial de Guimarães (ACIG), Luciano Baltar, acredita que o impacto que a abertura de dois novos shoppings em Guimarães terá no comércio tradicional será reduzido.

E já não percebo nada.

Por não perceber, pergunto: quando aquele a quem compete a defesa dos interesses dos comerciantes diz o que diz, em 2, que interesses defenderá quem diz o que diz em 1?**

E pergunto mais: com base em que informações, privilegiadas, claro, é que, o que escreve em 1, explica, tão bem explicadinho, o modelo de negócio da intervenção prevista para o Toural, invocando uma “entidade ganhadora”, que “suportará não só o custo do parque mas também de toda a intervenção nesse mesmo espaço”, quando o responsável político por ideia tão subterrânea afirma que os projectos apresentados só serão realidade se obtivermos comparticipação do QREN. O orçamento municipal não chega?

E ouso mesmo perguntar: que nevoenta “entidade ganhadora” será aquela? Ganhou o quê? E quando? E como? E a quem?

Confesso que já me enjoa toda esta conversa sobre o Toural, mas, já agora, se não for muito o incómodo, será que alguém se dá à maçada de me responder?


* Citação furtada daqui.

** Aqui, na caixa de comentários, pressenti uma leve insinuação quanto à eventualidade de haver "proveito próprio" envolvido no assunto. Mas eu cá não insinuo, só pergunto. Porque há interrogações que me fazem espécie.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Um Caso de Sucesso e Incompreensão

Não costumo falar de futebol e não será hoje que o farei. Falarei de revolta perante a injustiça, a ingratidão e a arbitrariedade.

Quando o contrataram, deram-lhe uma missão: colocar o Sporting de Braga no lugar que é seu por direito próprio e que lhe andava a escapar nos últimos anos. Era o homem certo, no lugar certo. Tem vindo a cumprir escrupulosamente, e com inegável sucesso, a missão de que o incumbiram. Agora que pôs o clube no bom caminho e está quase a atingir o objectivo que lhe colocaram, já se movimentam para correr com ele. Estes bragueses não sabem o que querem, é o que é! Já não consigo conter a indignação que me invade perante tamanha e tão insidiosa malvadez.

Deixem Manuel Machado trabalhar!

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Direito de Resposta


Ao cirandarmos por aí, à procura de alguma coisa para ler e matar o tédio, enquanto fazemos horas (nós aqui não perdemos tempo: produzimo-lo à medida das necessidades) para a sopa, demos a volta pelos sítios do costume, desaguando em Lisboa, como de costume, em dia de enxurrada, e fomos de Arrastão no enxurro. Nós aqui tão sossegados, a contar moscas e a cuspir cascas de tremoços, e já chegamos ao umbigo de Portugal. Porreiro, pá, diríamos nós se fôssemos o tal engenheiro e estivéssemos a abraçar aquele a quem a esposa afectuosa chama, com enlevo, o cherne e que por aqui é conhecido como o senhor que, depois de mobilar a sede do MRPP com os trastes que roubou na Faculdade de Direito, chegou a presidente da Comissão Europeia. Mas não somos. Portanto, não dizemos, mas estamos desvanecidos, gratificados, vingados e, até mesmo, um tanto ou quanto injustiçados. Porém, sentimos que são justos os reparos que lá deixaram na caixa de comentários: em Guimarães não tomamos bicas, tomamos juízo, ben-u-rons, penicilina e guronsans, conforme as necessidades. Em Guimarães somos diferentes, comemos as bicas, com as suas duas maminhas. E chamamos-lhes um pão.

sábado, 16 de fevereiro de 2008

Uma Iniciativa Inovadora

LEGENDA: Cerimónia comemorativa dos 179 anos, 4 meses e 26 dias do nascimento do gravador Molarinho. Na fotografia, da esquerda para a direita, os Presidentes das Juntas da Oliveira, de S. Paio e, por exclusão de partes, de S. Sebastião. Na ocasião, o homenageado, José Arnaldo Nogueira Molarinho (no medalhão, em segundo plano), manifestou-se muito sensibilizado com a gentileza de tão dinâmicos, empreendedores e indispensáveis autarcas, tendo confessado ao repórter do Guimarães Digital que não estava à espera de tal lembrança. Para ampliar, clique no ramo de flores.

Não tenho a menor atracção por números redondos, curvos ou semicurvos, terminados em 0 ou 5. Embirro com efemérides. Detesto aniversários. Abomino cinquentenários. Maldigo centenários. Impaciento-me com sesquicentenários. Fujo de milenários. Aborreço-me de morte com bodas: as de prata, as de ouro, as de diamante, as de platina ou as de casamento. A não ser pelo arredondado dos números, não vejo qual o sentido de se celebrarem os 50, os 75 ou os 100 anos do nascimento ou da morte de alguém. Ninguém faz nada de assinalável no dia em que nasce. Raros são os que o fizeram no dia em que morreram. Julgo preferível assinalar a passagem dos 104 anos, 3 meses e 14 dias sobre a data em que um escritor escreveu uma página memorável, do que o centenário da sua morte (isto é, do dia a partir do qual não voltou a escrever nem mais uma linha). Vem isto a propósito de ter percebido que não sou o único a padecer de alergia às efemérides, tais como têm sido concebidas até aqui. Inaugurando uma prática que se saúda, e dando mostras de uma insuperável visão estratégica, as três Juntas de Freguesia do centro urbano de Guimarães juntaram-se, no passado dia 15 de Fevereiro, para assinalarem a passagem dos 180 anos do nascimento do gravador Molarinho (que veio ao mundo num dia qualquer, para o caso não importa qual*), no preciso dia em que passam 101 anos sobre a sua morte (será que no ano passado se esqueceram do centenário?, estarão neste momento a perguntar os leitores. Não senhor, meus senhores: simplesmente, resistiram, com indomável tenacidade, à tentação de o assinalar**).

* Um senhor que tinha a mania das efemérides diz que foi a 25 de Setembro de 1828.

** O mesmo senhor assinala que o ourives faleceu no dia 15 de Fevereiro de 1907.

Este Post Contém Cenas Eventualmente Chocantes

Versão do Café Toural para o cartaz da exposição Cranach, da Royal Academy of Arts de Londres. À gargantilha com que foi vestida originalmente pelo pintor, acrescentámos um discreto wonderbra de cetim purpureado e uma folha de parra da casta roriz, a condizer (para ampliar e observar com mais pormenor, introduza o dedo no umbigo da senhora e, depois, clique).

Lord Byron, escritor inglês que passou por Portugal, descreveu os portugueses como uma subespécie que só tinha serventia para a escravatura (ele lá teria as suas razões para assim descrever, que o meu tio Benevides, um insaciável romântico, que também descrevia, costumava classificar como manifestações de dor de corno). J. P. Oliveira Martins, escritor português que passou por Inglaterra, descreveu os ingleses como a última reminiscência do homem das cavernas. Eu, que sempre fui um indeciso, nunca soube a quem dar razão, se a Byron, se a Martins, se aos dois, se a nenhum. Agora começo a dar razão a Martins, ao saber que na Inglaterra ainda há, mesmo, homens das cavernas – os do underground –, que, em defesa da moral e dos bons costumes, proibiram a afixação de anúncios de uma exposição com obras de Lucas Cranach, o Velho, onde se reproduz uma inofensiva pintura clássica com quase seis séculos.

PS: a imagem que vai aí acima é um contributo, a título gracioso, do Café Toural aos responsáveis da Royal Academy of Arts, que se lamentaram por não terem previsto “um plano B com a Vénus vestida”.


sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Ai Portugal, Portugal! 2.0

Que país é este onde a simples publicação de um decreto tanto pode esperar mais de um ano como mais de um século?

[Saber mais: a criatura e o decreto criador]

Amanhã É O Primeiro Dia...

...Do Resto Da Vida da Fundação Martins Sarmento!


Foi hoje publicado, em Diário da República, o Decreto-Lei n.º 24/2008 de 8 de Fevereiro, que institui a dita e lhe aprova os estatutos! Entra em vigor amanhã!

Longa vida! Muitos sucessos!

Se precisarem de alguma coisinha deste vosso humilde servidor... façam o favor de dizer...

Quem quiser conferir, pode fazê-lo aqui.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Ai, Portugal, Portugal!

Não sei se projectou ou se não projectou. Não sei se assinou o que não projectou só porque quem projectou não podia assinar porque fiscalizava as obras que projectava mas não assinava. Não sei. E não é essa ignorância que me incomoda. O que me que incomoda e assombra, o que me atormenta e mortifica, o que me dói e tira o sono, é vê-lo insistir que aquilo são criações suas. Para que abismos caminha o país cujo destino está entregue ao autor de mamarrachos assim medonhos?

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Terrorismo Político e Cabidela

Hoje o galo, o galo maldito, começou a cantar ainda mais cedo e ainda mais estrídulo. Tomei a resolução que antes já tinha tomado tantas vezes, mas que nunca consumara. De hoje não passa! Levantei-me, na cozinha peguei numa malga e na garrafa do vinagre. De faca afiada na mão, fui ao galinheiro. Pressentindo os meus propósitos galicidas, o cantador irritante desatou a cacarejar e a correr em todas as direcções, em círculos. Ao fim de trinta e sete minutos de perseguição, apanhei-o com um mergulho à Jesus, e, zás!, cortei-lhe o pescoço. Pendurei-o no estendal, pelas patas, com a malga por baixo, com boa quantia de vinagre, para a apanhar o sangue. Agora, ia poder dormir descansado e sonhar com a cabidela. No caminho de regresso a casa, com o instrumento da vingança na mão, vindos sabe-se lá de onde, saltaram-me em cima três, ou cinco, ou dezassete gorilas fardados de preto com as caras tapadas com passa-montanhas. Polícia, quieto! Num ápice, fiquei estendido de borco, com as mãos algemadas atrás das costas, e uma bota fincada no meu pescoço. Perguntaram-me o nome. Respondi. Ouço: É ele! Ao ver todas aquelas HK MP5 K apontadas ao meu pobre canastro, desato a encomendar a minha alma a deus e ao diabo. Se soubesse que matar um galo era crime tão grave, há muito que me teria deixado de cabidelas. Tartamelei uns gargarejos, na vã esperança de lhes explicar de onde vinha, de faca em sangue na mão. Alguém foi confirmar e confirmou. É verdade, chefe, está lá o galo. Vejo depois descerem da minha casa outros tantos gorilas de preto e caras tapadas. Tudo limpo, chefe, não encontrámos nada. Tiraram-me as algemas e, assim como apareceram, desapareceram. Com os motores dos carros a afastarem-se, levantei-me, espavorido, abismado e aturdido. Encontrei a casa de pantanas, tudo remexido.

Fiquei ali, sentado, horas a fio, a tentar perceber se estava acordado ou no meio de um pesadelo. Só agora encontrei uma explicação. Vinha nos jornais da terra. Cito um, com perdão pela falta de vírgulas:

O vereador começou por justificar que os projectos estavam ainda em fase de discussão pública, pelo que não se justificava qualquer parecer. Mas, perante a contestação da resposta por parte da vereadora que a recolocou atirando “como pode haver propostas para mexer na zona tampão do centro histórico classificado, sem um parecer do organismo local responsável pelo título”, Júlio Mendes não escondeu o nervosismo e perguntou “e como é que sabe que não há parecer?”

A contra-resposta provocou um diálogo mais aceso entre ambos tendo Ana Amélia obtido do vereador do PS a confirmação de que de facto não foi solicitado qualquer parecer ao ainda existente GTL. Mas à resposta Júlio Mendes acrescentou o comentário “isso é terrorismo político”, obtendo como resposta “não é não é trabalho de pesquisa. A Internet revela muitas informações”. Ana Amélia sugeriu a propósito “visitem os blogues onde estes assuntos são discutidos”.

Depois de dar uma volta pelos blogues indígenas, percebi que aquilo podia ser comigo, por causa disto. De repente, eu, que sempre tive razoável desarmonia ao terrorismo e forte alergia à política, vejo-me equiparado a agente de terrorismo político. Meus senhores, eu sou Honoré de Balazar, o das balazarianas! Não tenho nenhum fetiche por virgens, mesmo que sejam tantas como setenta e uma, e menos ainda se elas só vierem com disposição para me servirem depois de morto. Cá por mim, prefiro-as maduras e prefiro-me vivo.