sábado, 19 de janeiro de 2008

Anjo da Guarda, Que é Feito de Ti?

Um destes dias, passando ao largo da Cervejaria Martins, cruzo-me com um grupo de aborígenes em discussão desabrida. O costume, pensei, o Vitória, o Cajuda, o Geromel e o Rabiola, talvez o fora-de-jogo, talvez o Pimenta. Enganei-me: era de obras que se falava. Alguém me atira: “E tu, ò Honoré, não dizes nada sobre o projecto?”. Respondi com o mais expressivo encolher de ombros de que sou capaz e segui caminho. Ouso confessar que tenho dormido descansado, apesar do alarme público que invadiu a cidade por causa do que se anuncia para o Toural. Sei que, ao longo do processo de requalificação do Centro Histórico de Guimarães, tão louvado, premiado e galardoado, a cidade acrescentou novos elementos ao seu património, entre os quais se inclui o GTL, serviço que, pela reconhecida excelência do seu trabalho de preservação/reposição da autenticidade dos modos de intervir no património, granjeou respeito internacional, tornando-se num case study no meio académico de Portugal e arredores. Portanto, dormia eu descansado porque sei que há gente sabedora e de confiança a velar pela cidade. Dormia, disse, mas esta noite não dormi. Em plena madrugada, ainda o galo não cantara, acordei sobressaltado, suando frio, com tremores, com palpitações e com uma ideia insólita a zumbir-me na mioleira. Levantei-me, molhei o rosto, verti águas e voltei para o quentinho dos lençóis. Tinha sido um pesadelo: claro que não tinham acabado com o GTL. Mas amanheci atordoado com uma premonição funesta. Para a afastar, pus-me a pensar, o que raramente faço. A conclusão a que cheguei agravou o meu estado de ansiedade: em tanto que se tem falado sobre os projectos para Guimarães, não temos tido sinais de vida dos técnicos a quem compete a tutela do programa de intervenção no Centro Histórico classificado com o título da UNESCO e todo o espaço que baptizaram, Deus os perdoe!, de zona tampão. Ainda antes do mata-bicho, fui a correr à Rua Nova, antigamente bem mais airosa com aquelas raparigas alegres e gentis que ali ofereciam os seus préstimos aos pobres necessitados. Lá estava a casa do GTL. Mas não estava o GTL. De uma varanda ao lado, uma velhinha, com poucos dentes e muita curiosidade, quis saber quem é que eu procurava. A minha resposta fez ricochete na dela: “Então não vale a pena bater. Eles já se foram embora há muito”. Começo a ficar apreensivo. Muito apreensivo.

4 comentários:

  1. Depois de ler isto, fiquei com a pulga atrás da orelha. Pensando bem, tempos houve em Guimarães que não se movia uma palha sem que o GTL desse o seu veredicto, mas há tempos que não tenho notícias dessa gente. Fui à pesca no Google, e encontrei… nada. Nada de nada que ligasse o GTL à intervenção no Toural e na Alameda. É estranho. Encontrei uma entrevista da responsável daquele serviço (onde descobri que estava enganado: a senhora, que pelo porte e a falta de papas na língua ma parecia ser da rua da Arrochela, vulgo dos Caquinhos, afinal é de Matosinhos) numa coisa chamada “Vip’s On-line”, do Cybercentro, estabelece os limites do centro histórico (”…à direita quem sai do GuimarãeShopping ainda é Centro Histórico e que a última casa do lado de cima pega com o Campus da Universidade...”) que vão bem para lá da zona intramuros. Porém, como não a ouço dizer nada sobre a intervenção proposta para o Toural e a Alameda, fico a pensar se aqueles espaços estão fora da sua área de jurisdição, o que não faz qualquer sentido, quando se sabe que a zona de Couros ou a rua de D. João I estão dentro… Parece-me que há aqui qualquer coisa que precisa de ser bem explicadinha, para a gente ver se percebe.

    ResponderExcluir
  2. E têm a certeza de que a tal senhora ainda é a responsável pelo GTL?

    ResponderExcluir
  3. Perante isto, já deveríamos ter ouvido muitas perguntas e já alguém deveria ter perdido algum tempo a dar algumas respostas. Aqui, o silêncio é de chumbo! O que andam a fazer os jornalistas da nossa praça? Que é feito de quem tem responsabilidades políticas, na situação ou na oposição?

    Tenho um amigo que me diz que Guimarães começa a dar-se ares de mesquitismo. Só espero não lhe vir a dar razão.

    ResponderExcluir
  4. É bem verdade... o mesquitismo chegou a guimarães... A arquitecta alexandra não é mais a chefe do GTL e este nao opinou sobre os novos projectos para guimaraes... o GTL foi sempre um sonho do presidente da camara magalhães... mas parece que ultimamene o senhor presidente anda com as calças na mão, com medo que se descubram algumas verdades... daí que a câmara esteja entregue aos novos "lobos" que não têm o interesse do GTL tão no peito!

    asduascaras.blogspot.com

    ResponderExcluir

Avisam-se todos os nossos clientes que a tabuleta onde se lê RESERVADO O DIREITO DE ADMISSÃO tem uma função meramente decorativa. Neste café pratica-se a liberdade de expressão, absoluta até certo ponto. Qual ponto? É o que falta saber.