sábado, 25 de outubro de 2008

Dos Efeitos Secundários da Vinolência

Hoje acordei a modos que assim, atordoado de melancolia. A parede do meu quarto não pára de rodar e, vá-se lá perceber a que propósito, há uma música triste e velhinha que martela por dentro da minha caixa de ressonância craniana:


quarta-feira, 22 de outubro de 2008

O Algodão Não Engana!

Pois que se calem de vez os velhos do Restelo que, à falta de mais que fazer, se têm ocupado a arrasar a grande garagem subterrânea do Toural, antes mesmo de ser construída. Está cientificamente demonstrado: aquilo de que Guimarães mais precisa é de novos parques de estacionamento.

domingo, 19 de outubro de 2008

As Nossas Queridas Cheerleaders

Os responsáveis do Vitória continuam a dar mostras de um preocupante desfasamento da realidade. Decidiram agora “criar o grupo de Cheerleaders, uma espécie de claque feminina que anima os jogos antes e durante o intervalo”. Espanta saber que não sabem que há muito que o Vitória tem esse grupo, aliás famoso em todo o Mundo e seus arredores. E tem uma enorme vantagem em relação ao que agora se propõe: com elas, a animação não pára antes, durante, nos intervalos, depois dos jogos e, em geral, em toda a parte onde se fale de Guimarães e do Vitória. Aquelas senhoras mereciam mais respeito.


sexta-feira, 17 de outubro de 2008

A Banhada da Vimágua

Recebeu em casa uma factura da água 50 vezes acima do que estava à espera? Segure-se. Não há razão para pânico. O mais certo é que seja uma travessura agaiatada e ternurenta do jovial Presidente do Conselho de Administração da Vimágua, só para chamar a sua atenção. O que ele quer é que fale com ele. Vá lá, não se assuste, não se irrite, não o leve a sério. Mas fale com ele. O pequeno precisa dos seus mimos. E o melhor é dar-lhos. Se ele amua, ainda lhe manda cortar a água.

O Mercado Livre em Guimarães: A Feira do Pão

Noutro dia, por exemplo ontem, nos meus périplos pelo velho burgo de Guimarães deparei-me com duas coisas:

1º - Comigo mesmo. E isto como devem compreender foi algo de transcendente que será objecto de um extenso artigo no dia 1 de Novembro.

2º - Com a prova de que o mercado livre funciona. É neste ponto que me vou deter (esta palavra – deter – é curiosa, visto que tanto pode servir para o efeito atrás utilizado como para classificar a futura situação de alguns administradores bancários responsáveis por esta crise).

Falemos do essencial. Em Guimarães, em plena “crise”, verifica-se um fenómeno quase único à escala global: o mercado livre funciona. E funciona na Feira do Pão. O leitor mais incauto poderá pensar que estou a falar da indústria panificadora mas engana-se. Estou a falar do comércio de droga, essa nobre actividade.

Qualquer um de nós poderá verificar este exemplo do funcionamento do mercado livre, sem qualquer tipo de intervenção estatal ou camarária, se passar pelo belo largo da Feira do Pão (Largo Condessa do Juncal). E não é a esta tardia hora em que vos escrevo que se verifica a liberdade do mercado, é a qualquer hora da manhã ou da tarde (afinal estamos a falar de comerciantes honestos, que nada têm a esconder).

É fantástico a assistir a esta dinâmica de mercado em pleno centro histórico! Os clientes, alheios à crise e a quase tudo, reúnem-se nos bancos de jardim aproveitando a sombra e a calma do local. Empreendedores, não deixam que a preguiça os vença e, dinâmicos, ajudam os automobilistas a encontrar um bom lugar de estacionamento a troco de uma pequena maquia. Entretanto, provando que o mercado funciona sem intervenção estatal, camarária ou policial, aparecem os mercadores de droga que prontamente satisfazem os seus clientes. Este processo ainda que livre é complexo e os clientes, imbuídos de um espírito sindical, nomeiam um representante que, voluntarioso, entra num dos carros dos comerciantes transportando o dinheiro de todos os seus colegas. Após um breve passeio (com ou sem direito a comissão), regressa com o produto recém adquirido, distribuindo-o pelos seus colegas.

Depois disto só me resta olhar para esses cépticos do mercado livre e dizer como um emigrante de Oleiros me disse aqui há uns anos quando foi à Suiça lavar dinheiro: Laissez Fairy.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Contribuição de Mourinho & Marinho Para o Novo Acordo Ortográfico


A propósito do ainda agora aqui cheguei e já me vou embora ex-Director de Comunicação do VSC, pus-me à procura dos resultados do seu tão propalado e grandiloquente projecto para o Vitória, que tanto podia dar para o Leiria como para o Braga, e descobri que tão montanhosa montanha pariu um ratito pequenito. A principal marca (melhor diria, nódoa) que deixou foi uma inaudita bacocada intitulada Mensagem de incentivo do "Special One" à nossa equipa, onde, a certo ponto, de lê: O sorteio da pré-eliminatória não foi madrasto. Como disse? Madrasto? Isso mesmo, madrasto, um novo ente até aqui jamais avistado, um híbrido algures entre um padrasto efeminado e uma madrasta transexual. Diz-se à boca pequena que Mourinho e Marinho, tão amigos que eles eram!, já andam de candeias às avessas por causa do registo da propriedade industrial do neologismo: consta que o One diz que a palavra é dele, porque, para todos os efeitos, mesmo não a tendo dito, disse-a; ao que o lampião falante responderá que não senhor, que foi ele que inventou a declaração e que, por isso, não a tendo dito, escreveu-a, pelo que o madrasto é seu.

Ah, sorte Padrasta, aturá-los.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Assim, Como Abanar o Esqueleto?

As nuvens encobrem a lua cheia. Escuridão. Para além do sussurro das ramagens, bulidas pelo vento, silêncio e nada. Atravesso a noite negra com os sentidos despertos pela insónia, pressentindo o cheiro fresco da terra húmida do cemitério. Ao longe, percebo sombras esparsas que se movem, numa dança macabra cadenciada pelo sopro da aragem. Subitamente, um arrepio agudo e frio percorre-me a espinha. Do além-túmulo, há um grito que se solta e rompe o silêncio e o nada, sinistro, cavernoso e ameaçador: Quem foi o filho da puta que apagou a luz?

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Rapidinha

Cúmulo da rapidez:
- És director de comunicação do Vitória, não eras?

Nem Riso, Nem Siso

A propósito do que escrevi aqui há uns dias, antes da minha recente viagem a Cuba do Alentejo, onde fui operado, com assinalável sucesso, a uma hérnia umbilical pelo sr. Alfredino Chaparro, distinto barbeiro cubano, recebi uns quantos mimos, muito mimosos (e outros os receberam por mim, sem terem nada a ver com o assunto e sem se darem ao trabalho de me agradecer. Ele há gente muito ingrata, lá isso há).

Dizia eu que a cena do registo da propriedade industrial das Nicolinas só podia ser piada. O Honoré, a quem, sem descobrir a careca, tiro o chapéu, demonstrou que aquele número era mesmo uma anedota. Mas houve quem não achasse graça a tal demonstração e desse parte de um mau humor carrancudo, taciturno e enfadonho, porém compreensível em quem teima em se levar demasiado a sério. Ai esses vossos fígados, meus amigos!

Assim sendo, porque das 34 classes de produtos e das 11 de serviços da famigerada “Lista de Nice” só duas estão bloqueadas pelo inopinado, porém muito original e espirituoso, registo, vou-me dedicar ao negócio das camisas nicolinas: as camisas brancas do trajo, as lisas e as de irópito (classe 25), camisas de Vénus (classe 5), que vestirão muito bem nas fálicas baquetas de S. Nicolau, e camisas-de-forças (classe 10), muito úteis para suster as compulsões de certos senhores para inúteis registos de marcas e patentes. E porque a falta de sentido de humor pode ter origem em alguma falta de chá, vou diversificar a minha carteira de negócios e lançar-me na produção das “Tisanas Nicolinas” (classe 30), à base de ranunculus sceleratus, vulgarmente conhecido por sardónia, erva que tem a virtude infalível de induzir o riso sardónico.

domingo, 12 de outubro de 2008

As Vacas

Então, disse o Faraó a José: Eis que em meu sonho estava em pé à praia do rio. E eis que subiam do rio sete vacas gordas de carne e formosas de vista, e pastavam no prado. E eis que outras sete vacas subiam após estas, magras e muito feias de vista, e fracas de carne; não tenho visto outras semelhantes em fealdade em toda a terra do Egipto. E as vacas fracas e feias comiam as primeiras sete vacas gordas.
Génesis 41, 17-20

Fico surpreendidíssimo por ver como as vacas avançavam, uma atrás das outras, se encostavam ao robot e se sentiam deliciadas enquanto ele, durante cerca de seis, sete minutos, realizava a ordenha.

Aníbal Cavaco Silva, Vila-Meã, 3 de Outubro de 2008

Afinal, não há motivos para pânico. O presidencial economista Aníbal Cavaco Silva, o das vacas magras, num raro momento de inspiração, em que balança entre a fina agudeza discursiva do seu antecessor Américo Tomás e o rústico e resvaladiço palanfrório de pendor lúbrico do Quim Barreiros, contou a parábola das vacas deliciadas, tranquilizando os portugueses, ao partilhar com eles a sua visão das vacas gordas e felizes dos tempos que correm. Crise? Qual crise?

Magalhães: Falsa Fuga

Entre afectos e desafectos, houve quem esfregasse as mãos e afiasse o dente, já tirando as medidas à cadeira presidencial, assim que começou a correr por aí que Magalhães se havia perdido por causa de uma certa La Niña e se tinha mudado, súbita e surpreendentemente, para outras paragens. Houve mesmo quem assegurasse que chegou a ser visto nas praias de São Salvador da Bahia de Todos os Santos.

Porém, com base em fontes geralmente bem informadas, estamos em condições de esclarecer que há mais Magalhães à face da terra e que o de cá está bem adaptado ao clima local, que lhe tem sido muito propício, não fazendo tenções de se ir embora tão cedo.

sábado, 4 de outubro de 2008

(Quase) Toda a Verdade Sobre o Registo das Nicolinas

Esta coisa do registo da propriedade industrial da marca Nicolinas pareceu-me muito esquisita. Como sou curioso, depois de ter lido que "o registo da marca “Nicolinas” foi obtido pela associação Tertúlia Nicolina que, deste modo, concede às Festas Nicolinas mais um mecanismo de salvaguarda da secular tradição", fui ver como pode ser possível alguém registar uma festa tradicional centenária como sua propriedade industrial.

Primeiro, precisava de saber o que se entende quando se fala numa ‘marca’. Fui procurar quem sabe, e bati à porta do Instituto Nacional de Propriedade Industrial. Foi lá que li o seguinte:

“A marca é um sinal que identifica no mercado os produtos ou serviços de uma empresa, distinguindo-os dos de outras empresas.

“Se a marca for registada, passa o seu titular a deter um exclusivo que lhe confere o direito de impedir que terceiros utilizem, sem o seu consentimento, sinal igual ou semelhante, em produtos ou serviços idênticos ou afins (ou seja, o registo permite, nomeadamente, reagir contra imitações).

“Atenção! Em princípio, o registo apenas protege a marca relativamente aos produtos e aos serviços especificados no pedido de registo (ou a produtos ou serviços afins).”


Sendo assim, faltava saber que produtos e serviços teriam sido registados pela Tertúlia Nicolina, para serem comercializados sob a marca Nicolinas. Pedi o processo, que logo me foi apresentado. O pedido de registo da marca nacional n.º 424364 foi entregue no dia 19 de Novembro do ano antes deste, por um senhor do Porto, para as classes 24 e 35 da classificação de Nice. Teve uma primeira publicação no Boletim de Patentes Industriais no dia 7 do mês seguinte. Fui ler. E descobri coisas fantásticas. Que o Convento das Dominicas fica em São Tomé da Abação, por exemplo. E que a marca Nicolinas está protegida, por despacho de 20 de Fevereiro de 2008, em relação aos seguintes produtos:

Tecidos e produtos têxteis não incluídos noutras classes; coberturas de cama e de mesa (Classe 24).

e aos seguintes serviços

Publicidade; gestão de negócios comerciais; administração comercial; trabalhos de escritório (Classe 35).

Pergunto eu: o que é que as Nicolinas têm a ver com aquelas tralhas?

Conclusão: as festas Nicolinas continuam a ser de quem sempre foram: dos nicolinos e dos vimaranenses. E os senhores da Tertúlia Nicolina vão mudar de vida e passar a gerir negócios comerciais relacionados com a produção de coberturas de cama e mesa. Fica-lhes muito bem.

Razão tinha o Aldo Nim quando, aí abaixo, disse que o tal registo das Nicolinas só podia ser piada. Confesso que me fartei de rir com o que descobri.

São uns grandes cómicos, os cucos das Dominicas. Muito bons para o fígado.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Os Cucos das Dominicas

O cuco é uma ave parasita. Como, por preguiça ou imperícia, nunca construiu o seu próprio ninho, deposita os seus ovos nas moradas de outras aves. Foi deste passaroco que me lembrei assim que comecei a ler um bilhete que ainda agora meteram na caixa de correio do Café Toural.

Li:

“A designação “Nicolinas” já se encontra protegida ao abrigo do direito da propriedade industrial, impedindo-se assim a sua utilização abusiva e o eventual registo por entidades não Nicolinas ou estranhas às Festas.

O registo da marca “Nicolinas” foi obtido pela associação Tertúlia Nicolina (…).

Em ali chegando, não consegui conter o meu espanto. Propriedade industrial? Industriais, as Nicolinas? Mas que merda* é esta? Com que direito estes senhores registaram algo que não inventaram, que não adquiriram e que não lhes pertence? Não é isto apropriação indevida? Como é possível alguém registar um bem que pertence ao património colectivo?

Só pode ser piada.

De péssimo gosto.

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*Peço perdão do mau odor da palavra, mas uso-a antes que alguém registe a patente da trampa.