sábado, 28 de junho de 2008

Onde É Que Assino?


Pois se a troco de Carlos, Rei de França,
Ou de César, quereis igual memória,
Vede o primeiro Afonso, cuja lança
Escura faz qualquer estranha glória
Os Lusíadas, I, 13, 97-100

No dia 24 de Junho de 1128, depois de desbaratar a mãe e os galegos na célebre refrega que ficaria conhecida para a posteridade como a Batalha de S. Mamede, o jovem Afonso Henriques fez uma entrada triunfal na vila de Guimarães, subindo a rua de Camões à frente das suas tropas. Terá sido aí que, pela primeira vez, se ergueram vozes que o aclamavam como rei de Portugal, um país que ainda haveria de nascer. Como, na altura, o rigor do registo civil era bem menos apertado do que hoje, o jovem guerreiro decidiu perpetuar esse dia memorável no seu próprio nome, que passou a ser Luís Afonso Henriques de Camões.

Mais tarde, aquele que seria o nosso primeiro rei-poeta, construído o país, ainda teria tempo para escrever uma obra sublime, Os Lusíadas, na qual narrou, em decassílabos heróicos, a sua gesta, assim como a dos reis que se lhe seguiram pelos séculos adiante. Estes factos acabariam por cair na penumbra do esquecimento e a obra-prima da literatura lusa, por ele obrada, acabaria por ser atribuída, séculos mais tarde, a um outro Luís de Camões, do qual pouco se sabe para além de que se finou no dia 10 de Junho de 1580.

Vejo agora que a verdade histórica está em vias de ser reposta, correndo uma petição ao governo e à Assembleia da República para que seja transferido para o dia 24 de Junho “o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas”.

A César, o que é de César. A Afonso o que não é de Camões.

Assino onde?

15 comentários:

  1. E ficamos em Guimarães com um feriado a menos??? Nã...

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  2. Bem me parecia que a coisa trazia água no bico. Assim sendo, não assino. E grito, exsudando de indignação e da quentura:

    Alerta, Vimaranenses!

    Querem-nos roubar o nosso feriado municipal!

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  3. Calma!, não é caso para tanto. Vocês ainda não perceberam a ideia: passamos a celebrar "o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades" no 24 de Junho e a Batalha de S. Mamede no 10 de Junho. Genial, não acham?

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  4. nao sera por esse tipo de pensamentos que chegam do proprio umbigo que continuamos a ser mais pequenos que os outros...?

    os feriados servem para celebrar algo especial e marcante para todos. e só por isso é que é feriado... não para dar um dia de folga ao pessoal.

    mas cada cabeça é um mundo e há mundos onde certas coisas talvez não consigam entrar por serem grandes demais...

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  5. Presumo que o(a) amigo(a) Xanaer se terá sentido atingido por algo que aqui não foi dito. Aqui ninguém estava a falar de tamanhos. Se o(a) amigo(a) é pequeno(a), e de cabeça pequena, e tem complexos por nem chegar ao umbigo daqueles cuja altura lhe suscita inveja, livre-se deles. Já dizia a minha avozinha que tamanho não é documento e que, apesar de minorca, chegava sempre onde queria.

    Aqui falava-se de algo bem diferente: da ideia peregrina de passar o dia de Camões (!) para 24 de Junho e de acabar com o nosso bem-amado feriado municipal.

    Quanto àquilo para que servem os feriados, cada um sabe o que faz com eles. Porque um feriado, do latim feriatu-, significa, dia consagrado ao descanso, ao repouso, folga, dia em que não há trabalho. E serve para aquilo que significa: "um dia de folga para o pessoal". Se tem dúvidas, aconselho-o(a) a consultar um dicionário antes de inventar novos significados para as palavras.

    Para a pequenez, ouso recomendar-lhe um danoninho.

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  6. Eu por mim substituia o dia 10 pelo 24. Faz mais sentido.Aliás, faz todo o sentido. Camões foi um poeta que "poetizou" a nacionalidade, a Batalha de São Mamede criou a nacionalidade.

    Para feriado municipal, para não ficarmos a perder nessa matéria, proponho o dia 30 de Novembro. Isso porque regra geral,nessa data nunca me apetece fazer nada...

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  7. TANTA BURRICE...QUEM INVENTOU A PETIÇÃO?? SÓ PODE TER SIDO UM VIMARANENSE....

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  8. A pior forma de ler a história é com o orgulho de bairro. E esta ideia resulta desse orgulho.

    A Batalha de S. Mamede foi crucial para a história de Portugal porque afirmou o projecto político de Afonso Henriques contra o de sua mãe D. Teresa. Daí a dizer que Portugal nasceu nessa batalha...
    Aliás, basta ver que forças se defrontaram. É claro que foi uma batalha interna. O condado pertencia ao reino de Leão, não à Galiza. Os galegos vieram apenas defender os interesses da D. Teresa. Defensora da União com a Galiza, da qual também reclamava direitos. Para muitos historiadores foi também uma batalha pelo poder temporal travada em Santiago e Braga. A verdade é que D. Teresa, e Trava, queria criar um estado com a Galiza. E D. Teresa também chegou usar o título de rainha.
    Algumas datas a batalha foi em 1128, Afonso Henriques proclama-se em 1139 e Afonso VII aceita a independência em 1143. Tinham passado 15 anos desde S. Mamede.
    A história oscila entre aceitar 25 de Julho 1139 (Ourique) ou 5 de Outubro de 1145 (Tratado de Zamora) como datas para a fundação de Portugal.
    Não está em causa que a Batalha não tenha sido importante. Até pode ser reclamada como fundamental, mas entre 1128 e 1143 aconteceram muitas outras que foram ainda mais decisivas.

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  9. Caro AAEUM,

    É só ler o link para o texto do Mattoso para perceber porque é que a Batalha de São Mamede foi de facto o momento fundador da nacionalidade portuguesa.
    Mas para simplificar as coisas digo-lhe o seguinte: A Batalha de São Mamede foi o inicio do processo que nos levou a Ourique, a Zamora e por fim ao reconhecimento papal...

    Os momentos que marcam o inicio de algo na História são, regra geral, momentos simbólicos. Há sempre antecedentes e conjunturas existentes que "permitem" que dado momento aconteça. E há sempre momentos posteriores em que algo se consolida.

    Neste caso qual o momento a escolher: Ourique, Zamora, a Bula de 1179 ou São Mamede?
    Na minha opinião a última hipotese é a escolha mais natural e mais acertada. E justifico tal escolha com as palavras de quem sabe mais do que nós sobre estas matérias e que classifica a Batalha de São Mamede como " um acontecimento (...) memorável porque fez explodir a força de um movimento autonomista que havia seculos que se gerava nestas terras. Uma vez desabrochado, não cessou de aumentar e se fortalecer até criar esta Nação que te desafiado os séculos. Assim nasceu a nossa Pátria (...)"

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  10. O mais bestial dessa ideia é que, além de o dia de Portugal fazer mais sentido na data do primeiro impulso fundador, estragamos o feriado do S. João aos bragueses e aos tripeiros... É assim, uma espécie de 3 em 1...
    Para feriado municipal, proponho a data de 23 de Junho (elevação a cidade, pela Raínha D. Maria II, em 1853), ficando nós, assim, com dois feriados seguidos...

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  11. A verdade histórica é a convencionada. Há muitos factos para os quais há dupla interpretação e não podemos passar a vida a discutir sobre eles. Por exemplo, interessa discutir o local de nascimento de Afonso Henriques? Mesmo que o José Matoso diga que foi em Viseu, a convenção é que nasceu em Guimarães. Para quê discutir sobre isso?
    Só que o nascimento de um estado é necessariamente uma formalização. Assim, é o tratado de Zamora que dever ser considerado como fundador.
    Há no entanto a ideia que o mito é mais importante e, então, veja-se os nossos símbolos nacionais, há quem defenda a batalha de Ourique como o nascimento simbólico de Portugal. A verdade é que a ideia dos reis mouros derrotados, o aparecimento de Cristo antes da batalha, etc, fizeram parte do mito legitimador de Portugal.
    A batalha de S. Mamede foi importante para a afirmação de Afonso Henriques mas não decisivo para a afirmação de um estado. Até porque o confronto não foi contra o soberano leonês, mas contra a sua mãe. Outra pretendente ao Condado e com iguais motivações independentistas.
    Se quiserem o Torneio de Arcos de Valdevez (1140) terá sido bem mais importante para realização do Tratado de Zamora.

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  12. Joca, que tens muito descuidado o estudo, o que torna a batalha decisiva para a independência de Portugal não é contra quem foi mas de quem foi. Não foi apenas uma revolta do filho contra D. Teresa e os galegos, nem uma mera substituição dos detentores do poder. Foi uma apropriação do poder por parte dos nobres portucalenses, que depois o entregaram a Afonso Henriques. Os portucalenses reivindicaram logo aí uma autoridade política independente. É logo a seguir a esta batalha que o nome Portugal começa a surgir nos hábitos da chancelaria. Mas se a citação de Mattoso que o Olaf colou não chega, aqui vai mais uma:

    “ (…) a batalha tem um significado nacional, na medida em que pode classificar como “nacional” um movimento que está na própria origem da nação. S. Mamede foi o primeiro acto de um movimento irreversível que explica, mais do que qualquer outro acontecimento ou intervenção pessoal, as razões imediatas da independência do Condado Portucalense, como entidade política que precedeu o reino de Portugal.” - in D. Afonso Henriques, José Mattoso.

    Na minha opinião, este é o momento chave. Se é para ir pelas formalidades então só fará sentido a data da Bula Manifestis Probatum, porque só nesse documento fica D. Afonso I reconhecido como rex, por quem de direito maior da altura, e é nele que finalmente é eliminada a vassalagem devida a Leão e Castela.

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  13. Qaul é a data da independência das nossas ex-colónias?

    1961?
    1975?

    Não nego a importância da Batalha, mas até 1143 não terão sido todas importantes? Trata-se de marcar uma data como data zero. É disso que se trata. Sem bairrismos. Guimarães não ganha nada com esta polémica e não precisa dela para nada. Guimarães está a afirmar-se pelo que é no presente e não pelo passado. Guimarães perde sempre que se prende ao passaddo e ganha sempre que se afirma pelo presente. Ser património da Unesco não é o reconhecimento da história mas sim um reconhecimento da cidade de hoje.

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  14. PUTA QUE PARIU essa petição.
    O dia de Portugal é o 24 de Junho. Somente isso.
    O 10 de junho pode continuar a ser o de camões e das comunidades. Nada de misturas.
    Quem criou essa petiçao que a altere. FODA-SE. Ando tudo estupido???

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  15. Caro Joca,

    Falou nas ex-colonias mas, certamente, que se esqueceu do que aconteceu na Guiné que declarou a Independencia em 1973...Sabe em que dia é o Feriado Nacional da Guiné? Curiosamente é a 24 de Setembro de 1973 e não em 1974.

    Esquecendo agora a (im)possibilidade do 24 de Junho vir a ser Feriado Nacional, devemos aceitar que este foi, de facto, o dia 1 de Portugal...E tanto faz que tenha acontecido em Guimarães, Porto, Braga ou Lisboa...

    Se formos pela "lógica oficial" da época, a independencia de Portugal só aconteceria de facto com a Bula...Se formos a pensar no movimento que deu origem a independencia, teremos que apontar a Batalha de São Mamede.

    Se formos por outras lógica, que é a que parce que o Joca quer seguir, então deixo-lhe outras datas para ficarem à sua consideração (a titulo de exemplo):

    13/12/1640
    15/12/1640


    11/03/1975
    25/11/1975

    Todas estas datas forão muito importantes. Mas será que as devemos celebrar como celebramos o 1/12/1640 ou o 25/04/1974. Afinal onde houve ruptura?

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