quarta-feira, 16 de abril de 2008

O Putativo, o Papagaio, o Lambe-Botas e a Dor-de-Corno

Cá por estas bandas, isto tem andado um pouco parado, por falta de matéria. Em Guimarães anda tudo muito certinho, e não fora o Presidente da Junta de Sande, o Clemente, a revelar-nos que na sua freguesia há anciãos com memória de mastodonte, capazes de recordações que vão, pelo menos, até ao tempo dos castros, e isto andaria com absoluta falta de novidades e de sal.

Já aquela terra onde mora o senhor arcebispo, que fica para lá da Morreira, anda com outro salero. Ali, a política é um combate excitante, que se trava com grande elevação e uma certa inovação no uso da língua, mesmo antes da entrada em vigor do famigerado acordo ortográfico.

Aqui há dias, a oposição ao redil mesquiteiro, acusava o Município de estar “de costas voltadas para o conhecimento científico que é produzido nas diversas esferas de investigação” das “Universidades de B#*$*”.

A resposta veio em forma de comunicado do Gabinete da Presidência do Eng.º Mesquita, assinado por Mesquita, adj., profundamente inovador e criativo ao nível da linguagem da comunicação institucional, em que criticava o “pretenso recandidato do "partido-de-luís-filipe-menezes"”, a quem chama de “putativo”, palavra que, como todos sabemos, costuma usar-se quando se quer atirar um mimo a alguém através da interposta pessoa da senhora sua mãe, sem se usar expressão mais abreviada, o qual pretenderia mostrar “que, se e quando chegar ao poder, líderes académicos e dirigentes políticos não passarão um dia que seja sem que consertem o futuro do concelho ao sabor do mesmo prato e do mesmo copo e ao som de um trompete afinado pelo mesmo diapasão”. Porque, como ninguém poderá ignorar, “o Município de B#*$* sempre se assumiu e foi assumido como parceiro privilegiado das várias instâncias universitárias bracarenses, participando activamente nos projectos que desenvolvem”. (Claro que sim, ninguém duvida: basta recordar, por exemplo, o que aconteceu com a intentada candidatura do Minho a Região Europeia da Cultura).

A este comunicado respondeu o Jiminy Cricket da terra braguesa, que se revolta até ao nojo e atira que o comunicado camarário é “inacreditável para quem lê, é infame para a terra e é desonroso para a democracia”, classificando-o ainda como “um documento cujo conteúdo não vai além da política de sarjeta, servida num estilo trauliteiro, soez e brejeiro”, uma evidência da sua prévia constatação de que, por ali, a política “é raivosa, bafienta e pérfida”.

O visado pelos comentários subtis, delicados e graciosos do comunicado autárquico, o putativo, sai então a terreiro, com uma réplica à altura da elevação da discussão, a denunciar, “a soberba oca e os insultos desbocados que tive o privilégio de receber do "Autarca lambe-botas do Sócrates" e do seu papagaio de serviço”.

Até aqui, tudo nos conformes. Linguagem límpida, pensamentos cristalinos, conversa asseada. O problema foi quando um leitor resolveu deixar no blog do putativo um comentário enigmático, que rezava assim:

Eu acho que é uma grandessíssima "DOR DE CORNO"!

Aí, o putativo perdeu o pé, e provavelmente o tino, se não a razão, e descambou por completo, quando ia tão bem!, dando-lhe para se encher de pruridos e atirar uma advertência severa ao comentarista:

Apenas deixei passar esse excesso de linguagem porque está ao nível do comunicado. Mas tente evitar esse tipo de expressões.

Porque, como todos sabem, os papagaios, especialmente os papagaios dos lambe-botas, não têm cornos.

2 comentários:

  1. Bonito!
    Vê-se bem que o Honoré é de Balazar... deve ser de, à conta da nortada, de vez em quando, respirar ares provenientes de a norte da Morreira... Deixe lá de se preocupar com essa gente, que isso faz mal à saúde! Apesar de compreender o impulso legítimo de quem gosta de observar a vida animal... Eu, por exemplo, não perco um National Geographic, mas aprecio mais os episódios sobre pequenos mamíferos que estes dos grandes símios...

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  2. Ò meu caro das Sandes, como estais enganados… Eu não me preocupo com tal gente, antes pelo contrário, nem estas coisas me fazem mal à saúde, antes pelo contrário. Fazem-me bem. Muito bem. Com o tempo soturno como o que agora faz, sou dado a uma melancolia tão melancólica que abeira a depressão. Assistir de longe às papagaiadas dos senhores que se esgadanham lá para as margens do rio Este é muito melhor do que o Prozac. Não tem contra-indicações e até faz bem ao fígado.

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