Com o rigor sociológico que costuma marcar as reportagens que publica sobre a nossa cidade, lá está na página 26 do Expresso(*) de hoje mais um notável retrato dos vimaranenses, que são apresentados, para não variar, como os maiores entre todos os grunhos do planeta Terra. Por lá passa uma cidade onde tudo pára por causa do pontapé na bola(**) e passam também um velhote com delirium tremens que se recusa a comer no Natal, por causa do Vitória, claro, um jovem advogado com nome de passarinho, que nunca mais se pós-gradua, porque falta às aulas para ir à bola, um gestor estalinista que proíbe a família de ir de férias enquanto durar a época futebolística, uma muito feminil claque de malucas, para quem o vitória é mais importante do que a família e, la cerise sur le gâteau, um inigualável decorador de interiores, de gosto fino e delicado, que vive numa das “zonas chiques” da cidade e que tem na sala “um pequeno templo dedicado ao clube”, que inclui uma, très chic, parede de azulejos, pintados à mão, com a imagem do estádio, uma toalha na mesa de jantar, chiquérrima, com o emblema do vitória a preto e branco e um estendal de cachecóis, de “todo o tipo” e com “frases bélicas”, pendurado no tecto, chique a valer. Foi pela voz de tão excelso artista que actualizei o meu conhecimento acerca do porquê dos bragueses chamarem espanhóis aos vimaranenses, em resposta ao carinhoso epíteto de marroquinos que lhes atiram do lado de cá: “os de Braga chamam de ‘espanhóis’ aos de Guimarães por serem descendentes de filhos bastardos da mãe de D. Afonso Henriques com castelhanos” (***). Li três vezes, assim como quem pergunta: “importa-se de repetir?”, para ver se estaria a ler bem. Afinal, vamos ter de reescrever a nossa história e a biografia da mãe de Afonso Henriques, e sua progenitura, além de refazer a nossa genealogia, à luz dos sábios ensinamentos do requintado, e esfuziante de chique, mestre de artes decorativas.
(*) Não, não é o incontornável Expresso do Ave. É aquele jornal que, se fosse vendido ao quilo, ainda saía mais caro. O Expresso simplesmente.
(**) Eu julgava que só parava a Assembleia Municipal. Reconheço-o, estava redondamente enganado.
(***) Eu julgava que era por causa de certo ex-presidente do Vitória, com quem a justiça anda agora a ajustar contas, por ele um dia ter ameaçado inscrever o clube na liga espanhola. Estava enganado redondamente, reconheço-o.
Confesso que nunca tinha percebido essa dos espanhóis e dos marroquinos.
ResponderExcluirEntão é por causa do Pimenta que nos chamam espanhóis? E nós chamamos marroquinos aos de Braga porquê? Na minha completa ignorância do mundo futebolístico, cheguei até a pensar que os bragueses jogavam futebol com o hijab enfiado nas cabeças, mas parece que não.
Este mistério dava um best-seller, quiçá poderia até ser vendido em folhetins no Expresso.
E eu confesso que não percebo porque é que lhes chamam marroquinos quando os querem insultar. Para mim, chamar-lhes bracarenses já seria insulto mais do que suficiente.
ResponderExcluirQuanto à origem do palavrão, não a sei explicar, nem o senhor decorador de interiores fez luz sobre o assunto.
Será que lhes chamam marroquinos por analogia, a eles que também usam camisolas vermelhas, para não confundir com os outros, os mouros lampiões?
É capaz de ter razão. Isso explica muito bem a falha do decorador ao não ter aprofundado a questão marroquina.
ResponderExcluirGosto muito deste café.
Lembro-me desse momento,dessa final da taça de Portugal,eu escrevo como falo, quando o arbitro Garrido morrer, vou abrir champanhe.
ResponderExcluirentão gozou sem saber explicar? coitado do inculto que achava que sabia mais do quem nada sabe. Este texto tem alguma coisa a ver com o título do anterior? Dor-de-Corno?
ResponderExcluirMeu caro anónimo das 17:02,
ResponderExcluirComeço por notar que gozar é uma palavra controversa na língua portuguesa (e se for com pronúncia brasileira, nem lhe conto!).
Confesso que o que não consigo explicar me fascina particularmente. Neste momento estou de olhos esbugalhados, perante o seu comentário: acredite que, por não o perceber lá muito bem, não sou capaz de o explicar. E isso fascina-me, oh se me fascina!
Claro que este texto tem tudo a ver com o anterior e com o seu título. Dor-de-corno, no seu estado mais puro.
Ps: inculto me confesso. Não quer partilhar connosco a sua cultura nesta matéria de natureza tão pedestre?
Agora terei como nome anónimo de uma outra hora qualquer.
ResponderExcluirNão tem qualquer importância que não o tenha percebido. Era uma espécie de elogio de 25 de Abril. Dar-lhe os parabéns por ser livre! Por ter tanta liberdade, que tem até direito a ter um espaço na internet para gozar - insisto, porque a "net" dá para tudo - com tudo e todos, mesmo que para isso o argumento seja a falta de conhecimento de um facto, que o próprio aldo nim desconhece.
Para lhe explicar o nome de espanhois, podiamos marcar um café! No toural, lá para segunda?
Deixe-se de dores, e muito menos de ataques ao vitorianismo das pessoas, expresso na forma que elas bem entenderem. Perceba que é uma paixão como outra qualquer. Eu não o gozaria por casar com uma mulher feia, ou mesmo por lhe dar prendas das piores. São formas de gostar, e de mostrar que se gosta...Sem dor de corno!
Insomne anónimo das 3:28, ex-17:02,
ResponderExcluir25 de Abril sempre, portanto!
Agradeço o seu cuidado, mas, de momento, não me dói nada em especial.
Se, porventura se sentiu alvo de um ataque ao seu vitorianismo no texto que aqui deixei, lamento muito, mas não tenho nada a fazer, uma vez que o objecto do escrito não era a paixão clubística de ninguém (paixão que não comungo, confesso-o, uma vez que sou um dos 140.000 vimaranenses que são não praticantes dessa fé que faz reunir os vimaranenses que sobram para prestarem culto a 11 de 22 senhores que, em trajes menores, correm atrás de uma bola - não me meto em questões de fé, que respeito todas, embora não me sinta obrigado a comungar com qualquer delas). O objecto do gozo era, simplesmente, o modo grotesco como o jornal Expresso costuma representar os vimaranenses, pintando-as como uma espécie de trogloditas que só pensam em futebol.