Hoje o galo, o galo maldito, começou a cantar ainda mais cedo e ainda mais estrídulo. Tomei a resolução que antes já tinha tomado tantas vezes, mas que nunca consumara. De hoje não passa! Levantei-me, na cozinha peguei numa malga e na garrafa do vinagre. De faca afiada na mão, fui ao galinheiro. Pressentindo os meus propósitos galicidas, o cantador irritante desatou a cacarejar e a correr em todas as direcções, em círculos. Ao fim de trinta e sete minutos de perseguição, apanhei-o com um mergulho à Jesus, e,
zás!, cortei-lhe o pescoço. Pendurei-o no estendal, pelas patas, com a malga por baixo, com boa quantia de vinagre, para a apanhar o sangue. Agora, ia poder dormir descansado e sonhar com a cabidela. No caminho de regresso a casa, com o instrumento da vingança na mão, vindos sabe-se lá de onde, saltaram-me em cima três, ou cinco, ou dezassete gorilas fardados de preto com as caras tapadas com passa-montanhas.
Polícia, quieto! Num ápice, fiquei estendido de borco, com as mãos algemadas atrás das costas, e uma bota fincada no meu pescoço. Perguntaram-me o nome. Respondi. Ouço:
É ele! Ao ver todas aquelas HK MP5 K apontadas ao meu pobre canastro, desato a encomendar a minha alma a deus e ao diabo. Se soubesse que matar um galo era crime tão grave, há muito que me teria deixado de cabidelas. Tartamelei uns gargarejos, na vã esperança de lhes explicar de onde vinha, de faca em sangue na mão. Alguém foi confirmar e confirmou.
É verdade, chefe, está lá o galo. Vejo depois descerem da minha casa outros tantos gorilas de preto e caras tapadas.
Tudo limpo, chefe, não encontrámos nada. Tiraram-me as algemas e, assim como apareceram, desapareceram. Com os motores dos carros a afastarem-se, levantei-me, espavorido, abismado e aturdido. Encontrei a casa de pantanas, tudo remexido.
Fiquei ali, sentado, horas a fio, a tentar perceber se estava acordado ou no meio de um pesadelo. Só agora encontrei uma explicação. Vinha nos jornais da terra. Cito um, com perdão pela falta de vírgulas:
O vereador começou por justificar que os projectos estavam ainda em fase de discussão pública, pelo que não se justificava qualquer parecer. Mas, perante a contestação da resposta por parte da vereadora que a recolocou atirando “como pode haver propostas para mexer na zona tampão do centro histórico classificado, sem um parecer do organismo local responsável pelo título”, Júlio Mendes não escondeu o nervosismo e perguntou “e como é que sabe que não há parecer?”
A contra-resposta provocou um diálogo mais aceso entre ambos tendo Ana Amélia obtido do vereador do PS a confirmação de que de facto não foi solicitado qualquer parecer ao ainda existente GTL. Mas à resposta Júlio Mendes acrescentou o comentário “isso é terrorismo político”, obtendo como resposta “não é não é trabalho de pesquisa. A Internet revela muitas informações”. Ana Amélia sugeriu a propósito “visitem os blogues onde estes assuntos são discutidos”.
Depois de dar uma volta pelos blogues indígenas, percebi que aquilo podia ser comigo, por causa disto. De repente, eu, que sempre tive razoável desarmonia ao terrorismo e forte alergia à política, vejo-me equiparado a agente de terrorismo político. Meus senhores, eu sou Honoré de Balazar, o das balazarianas! Não tenho nenhum fetiche por virgens, mesmo que sejam tantas como setenta e uma, e menos ainda se elas só vierem com disposição para me servirem depois de morto. Cá por mim, prefiro-as maduras e prefiro-me vivo.
Pelos vistos, o ambiente na Câmara já deve ter tido melhores dias. Já se sabia que o putativo delfim do nosso presidente tem pouca cultura, em sentido lato (basta ver a "encomenda" que fez para o Toural); agora verifico que não tem cultura democrática e não consegue controlar tiques persecutórios. "Terrorismo político"? Será que o homem tem ideia do tamanho da alarvidade que proferiu? Felizmente, o Presidente da Câmara ainda está ali para as curvas...
ResponderExcluirmens qual é a vossa… vocês coisa e tal estão a confundir género humano com Manuel Germano: então agora o “mal” está todo numa pessoa como se na câmara alguém pudesse arrebitar cachimbo sem o big Magalhães saber e concordar e deixar. A política da câmara é allMagalhães, portanto o tiro deve ser disparado mais para cima. Tanta inocência (?) até confunde...
ResponderExcluirAtão, homem, aqui ninguém anda aos tiros contra ninguém. Somos da paz. Daí, talvez, a inocência, ou a falta dela. Quanto a arrebitar cachimbo, a coisa está complicada: só se for na rua, por causa da ASAE.
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