terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

A Profecia da Capicua


Ou muito me engano ou o bando do Entrudo vimaranense de 1857, que encontrei aqui, foi soprado por certo sapateiro quinhentista das partes de Trancoso, que nos seus dias pelo nome de António Gonçalves Anes Bandarra. É dedicado aos da terra das frigideiras e de uns quantos pês que, nesse ano, por falta de diversão pela banda de lá (aqueles eram tempos em que a Bracalândia ainda não tinha sido inventada, nem desinventada), quiseram participar nas folias dos vimaranenses:

Os bracarenses a querer ter parte
(…)

(…)
Não digo que festa em Braga
É somente farelório,
Mas nem merece que em paga
Se aponte no reportório;
Vale tudo, bem pesado,
Trinta réis de mel coado.
(…)
Eis-nos pois na pátria vossa,
De gloriosas tradições,
Onde a névoa nunca engrossa,
Brilha gás nos lampiões,
E passeios e arvoredos
Convidam para os folguedos.
(…)

Ao ler a segunda sextilha que aí vai, não tive dúvidas de que este texto era uma premonição e um aviso, com exactamente 151 anos (notem bem a dimensão eminentemente profética da capicua). Passeios, lampiões, arvoredos, é do Toural que se fala, sem sombra de dúvida.

Felizmente, na pátria nossa, a névoa nunca engrossa, e o Toural jamais será uma tampa (com o perdão da palavra roubada, que é muito bem aplicada, mas não é minha).

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