sábado, 28 de novembro de 2009

Alguém Viu Por Aí Um Comissário?


Reconheço. Sofro de hipocondria. Sofro dessa e de todas as demais doenças que andam por aí, com excepção da hidropisia das criadas de servir. É por isso que tenho andado ausente. Desde que se começou a falar na gripe suína-mexicana-a-h1n1, fiquei apreensivo e, assim que pude, vazei. Jurei para mim que esta não me ia apanhar. Fui para o meio do monte. No deserto, fiz-me anacoreta. E, à falta de que fazer neste meu retiro, tem-me dado para pensar e para ler coisas velhas e ressequidas. Estou a preparar um tratado sobre este nosso modo de ser lusitano, tão entusiástico, voluntarioso e imaginativo na hora de pensar em fazer projectos e tão rápido em esquecê-los na hora em que deveriam acontecer. O redemoinho dos meus pensamentos, trouxe à superfície a lembrança do regozijo, do entusiasmo e, até mesmo, da excitação com que recebemos a notícia de que, vá-se lá perceber porquê, tínhamos sido bafejados com a Capital Europeia da Cultura de 2012. Fomos brilhantes no torvelinho de atirar ideias para o ar. Discutimos o que parecia mais urgente, a escolha de quem iria protagonizar tamanha empreitada: O Senhor Comissário. Pusemo-nos todos à procura de uma figura para conduzir a CEC. Houve quem fizesse sondagens, traçaram-se perfis, estabeleceram-se prazos, houve mesmo quem tivesse suficiente golpe de asa para encontrar o génio que nos deveria guiar. Haveria de ser uma figura de grande projecção na cultura pátria, com dimensão internacional, de preferência com ligações a Guimarães. Procurava-se um catalisador para o entusiasmo e para as energias dos vimaranenses. Já se passaram mais de três anos. Consta-me que já foram apresentados uns nomes, dos quais só me lembro do de Jorge Sampaio (que, ao que percebi, ocupará na estrutura da CEC uma posição a modos que a fugir para o decorativa). Se já existe o tal comissário, o grande timoneiro deste empreendimento, confesso que não dei por isso. E do que vou vendo daqui, deste meu recesso profiláctico, nada vejo que me arrebate, que me entusiasme ou, sequer, que me anime.

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