Tenho acompanhado as reacções indignadas ao tratamento que foi dado ao Prof. Vital Moreira na manif da CGTP. Em resposta aos que se questionam sobre o que é que o homem lá foi fazer, vejo recuperar o célebre acórdão da coutada do macho ibérico, do Supremo Tribunal de Justiça, que sentenciava, a propósito da violação de uma turista de mini-saia, que “estava a pedi-las...”. A analogia é graciosa, porém pouco ajustada à situação vitalina. Vital Moreira, putativo mártir e candidato a enfileirar ao lado de Nuno Álvares Pereira, está longe de ser uma virgem ofendida e não consta que tenha sido violado. Quando lá foi, sabia bem ao que ia (não foi em vão que militou no PCP até perto dos 50 anos). Obteve o que pretendia. O sorriso que não disfarçou, enquanto era borrifado com água fresca e sacudido pela turba, é por demais esclarecedor, assim como a pressa que teve em colar o que lhe estava a acontecer aos acontecimentos da Marinha Grande. Esta gente não brinca em serviço! Haverá por aí alguém tão ingénuo que não perceba que aquilo foi cuidadosamente preparado por marketeiros, com o propósito de criar um factóide que desse um impulso à candidatura de tão eminente figura? Tratou-se, simplesmente, de uma acção de campanha eleitoral, pura e dura. Vital Moreira é, para aqueles que lhe chamaram nomes feios, um traidor, alguém que perfilhou uma fé e que a abandonou para se tornar num apóstolo do contrário daquilo em que dizia acreditar. Um renegado, portanto. Ele, que um dia escreveu um livro sobre “A ordem jurídica do capitalismo”, tem sido, ao longo dos tempos, um dos mais torrenciais e indefectíveis panegiristas da obra do senhor engenheiro, o tal que tira aos remediados para dar aos banqueiros, ao serviço de quem tem dito dos sindicatos aquilo que Maomé não diria do toucinho. Assim sendo, por que razão foi ele, exactamente ele, que nem sequer é do partido, o escolhido para encabeçar a comitiva oficial dos da rosa à tal manif, onde era suposto que, por ser quem é, não seria bem-vindo, nem recebido com beijos e abraços, antes pelo contrário? Um acto de cortesia? Ora, ora, conte-nos outra, Vitalino Canas... Seria o mesmo que o Salman Rushdie aparecer numa celebração dos Ayatolahs. Ou o Luís Figo voltar a passear pelas Ramblas de Barcelona. Ou a Carolina Salgado tornar a enfileirar num desfile dos Super Dragões, rumo a um jogo no Estádio da Luz. Ou o Francisco Teixeira fazer-se convidado para uma confraternização dos socialistas de Guimarães. Quando apareceu na manif da CGTP, o cabeça de lista do PS sabia ao que ia. Estava, literalmente, a pedi-las. E houve uns ingénuos que lhas deram.
E veio Vitalino à liça, atiçar as almas pudicas contra os bárbaros que acometeram o seu cabeça de lista, falando em ódio e em acto de cobardia. Como bem dizia o meu tio Francelino, quem tem telhados de vidro não atira pedras para o ar. Ou será que o homem já esqueceu os tristes espectáculos, protagonizados por militantes do seu partido, aquando das recepções a Sousa Franco, no mercado de Matosinhos, ou a Francisco Assis, em Felgueiras?
olhe que está a pedi-las Honoré. descobriu o rabo da porca,nem mais e mesmo eu não diria melhor. lucidez, humor e coragem, deve ser do chá frio do café toural
ResponderExcluirQue trapalhice. Você mistura tudo. De honoré não tem nada.
ResponderExcluirFico-lhe muito grato. Vejo que conseguiu compreender perfeitamente o meu ponto de vista. Brindemos a tal feito, comme-il faut: saia uma água simples para este senhor; para mim, apreciador de misturas, um fino traçado. À sua!
ResponderExcluiró castelar, vai para a speaker´s corner!
ResponderExcluirPela enésima vez (que, por acaso, é a terceira): eu não sou o Ilustríssimo Senhor Honoré de Balazar - rai's parta a insistência! -, cujo texto em apreço, neste particular, até subscrevo.
ResponderExcluirA mim, aliás, o que me espanta - e irrita mesmo -, é assistir diariamente, na política, a gente de estatura intelectual supostamente superior, prestar-se a estes servicinhos, como que lambendo as botas de tipos que nem lhes chegam aos calcanhares (Sócrates, Canas, Pinhos e afins)...
Vital, Vital... ao que chegaste...
Jorge Castelar Guimarães