quarta-feira, 26 de março de 2008

Como é Belo o País Pintado a Cor-de-Rosa ou Alice no País das Estatísticas

O Senhor Engenheiro desceu ao Vale do Ave. Veio anunciar, no seu discurso carregado com toneladas de convicção, que a crise acabou, porque, no ano passado, houve mais 4,2 por cento de exportações de têxteis. Porreiro, pá. Agora, parem lá de falar em todos aqueles que a indústria têxtil atirou para o desemprego durante o ano de 2007. A crise dessa gente não conta para as estatísticas do país das maravilhas.

sábado, 15 de março de 2008

Quero o Parque, Quero as Árvores, Quero Tudo

Exmo. Senhor Presidente da Câmara Municipal de Guimarães,

Começo por me apresentar: sou o trigésimo sexagésimo quarto comerciante da zona do Centro Histórico de Guimarães e arrabaldes. Não me quis juntar aos 363 colegas que responderam ao inquérito da ACIG, por desejar comunicar-lhe de modo pessoal e intransmissível a minha opinião acerca do projecto do Toural.

Aqui vai ela.

Como não sou de enredos, nem enleios, nem gosto de dizer no fim o que posso dizer logo no princípio, direi que sou apoiante incondicional do parque subterrâneo no Toural, obra redentora e fundamental para a sobrevivência do comércio tradicional vimaranense. É que isto está mau, Senhor Presidente, muito mau. Nunca esteve tão mau, Senhor Presidente. Pior do que agora, só para o ano que vem. Isto está tão mau, tão mau, tão mau para o nosso comércio tradicional, que até a sex-shop do Toural, mal abriu, fechou portas.

Foi por isso que olhei para o projecto do Toural como uma luz ao fundo do túnel. A bem dizer, um túnel cheio de luz será ele, porque me dizem que vai ser o primeiro túnel a céu aberto do Hemisfério Norte. Quero o parque e quero mais. É necessário mais arrojo, Senhor Presidente, seja ousado e coloque os olhos na infinita dimensão do futuro. Um parque no Toural é pouco para tanto futuro. É preciso mais: um parque subterrâneo desde o Toural até ao fim da Alameda, isso é que será uma obra digna de um visionário.

Faça isso, Senhor Presidente, um parque subterrâneo que se veja. Mas deixe lá ficar as árvores, para que não lhe pese o arborícidio na consciência. É o meu coração ecologista que lho implora, Senhor Presidente. Eu e os meus colegas queremos o parque. Faça-o, mas sem mexer nas árvores.

Faça-o depressa, Senhor Presidente. De preferência, sem muito ruído e fora do horário comercial, para não nos perturbar o negócio. Nos entretantos, tenha a bondade de isentar estes seus munícipes das taxas municipais e comece a pensar num adjutório para os comerciantes por causa das perdas no negócio. Um subsidiozito vinha mesmo a calhar, Senhor Presidente.

Entretanto, aqui fica o aviso: caso decida seguir a opinião daqueles senhores que não têm dó dos pobres dos comerciantes, e que andam a dizer que os subterrâneos do Toural são um disparate sem ponta por onde se lhe pegue, vá-se preparando para desembolsar indemnizações compensatórias pelas expectativas frustradas ao comércio tradicional vimaranense.

Envia-lhe muito saudar, Senhor Presidente, este que se assina

Ya-xiang Yuan

(proprietário de uma loja tradicional de miudezas orientais de baixo custo, anteriormente conhecida por loja dos trezentos)

segunda-feira, 10 de março de 2008

A Sondagem

Ao que parece alguns vimaranenses têm sido vítimas de uns telefonemas estranhos, em jeito de "sondagem". Com bastante falta de jeito fazem-se perguntas genéricas sobre o centro histórico para, desajeitadamente, se chegar a uma questão final que é mais ou menos assim: concorda com um parque de estacionamento no Toural?

Um cidadão mais atento, após ter recebido um telefonema em casa e ter respondido à tal “sondagem”, telefonou para um número “verde” (que lhe foi fornecido pelos inquisidores no final da dita “sondagem”). Queria saber informações sobre os autores de tão pertinente questão. Tais informações foram negadas a este exemplar cidadão que, indignado com o secretismo relativo a estes misteriosos telefonemas, terá ficado “verde”, não de inveja, mas sim de raiva.

Segundo se diz à boca pequena terá sido a Associação Comercial e Industrial de Guimarães a encomendar a tal “sondagem”…Contudo ontem, após ter ouvido esta história e ter ido dormir sobre o assunto, sonhei que a “sondagem” teria sido encomendada por alguém próximo de Júlio Mendes.

Por aí diz-se, apenas, que o projecto (ou melhor: o projecto de projecto) para o Toural está prestes a receber sinal “vermelho”.

sábado, 8 de março de 2008

Da Umbiguidade

Recordais-vos da Casa dos Espelhos da Feira Popular? Olhando-se neles, os gordos tornavam-se magros, os magros ficavam gordos, os anões viravam gigantes, os grandes ficavam pequenos. Ou ainda maiores.

Sei de quem tem um desses espelhos em casa, daqueles que reflectem uma imagem maior do que a coisa reflectida. Ao acordar, olha-se no espelho mágico e diz, de si para si: como sou grande e belo e culto. Quando sai à rua, olha em volta e apenas vê gente pequena e feia e ignara. Nunca olha para os seus semelhantes, porque não vê ninguém que lhe seja semelhante. Trata os outros com certa condescendência, algum paternalismo e não pouco enfado. A quem o saúda, responde com um vago sorriso amarelo. A quem lhe estende a mão, embora lhe apeteça, não recusa a sua, e dá-a fria e mortiça. E dir-se-ia que pensa, de si para si, a todo o instante: como sois pequenos, coitados e sem berço. Nas raras vezes em que se dá ao trabalho de falar, fala de cima da burra, aquela mesma que mija para trás.

No seu deslumbre, era preciso que olhasse para o espelho com um pouco mais de atenção, para perceber que, tanto quanto lhe aumenta o umbigo, também lhe aumenta as orelhas.

domingo, 2 de março de 2008

Com a AXilA Cheia

Andam ufanos, os bragueses: finalmente, conseguiram ver o estádio cheio. E já podem dormir sossegados: não é por ser tão feio que o AXA não enche. O estádio de Braga não enche nem com o Porto, nem com o Benfica, nem com o Sporting, nem com o Bayern de Munique, nem, esperem sentados, com o Braga. Para encher aquela pedreira são necessários os adeptos dum clube verdadeiramente grande.

sábado, 1 de março de 2008

Afinal Havia Outra

[Clique na imagem, para ver melhor]

Afinal, o Ministro da Cultura tem um nome e tem um rosto. Chama-se José António Pinto Ribeiro e não é mulato. É loira.

(A descoberta é do sempre atento Spicka: vd. a caixa de comentários da posta anterior)

Cadê O Ministro?

Ontem à noite, impingiram-me uns goles de pisang ambon, uma mistela esverdeada cujas excelências muito me gabaram. Eu bem dizia que, para mim, verde, só o vinho, desde que seja tinto, mas não tive outro remédio e emborquei um trago daquele xarope. Resultado: atacou-me a figadeira e passei a noite com insónias. As minhas vigílias costumam ser altamente criativas (à falta de que fazer, acabo por desistir de dormir, e ponho-me a pensar e a anotar os pensamentos no meu moleskine da loja dos chineses). Quando me levantei, transbordava de ideias luminosas, cintilantes e incandescentes (algumas delas chegam a ser, ouso dizê-lo, radiosas), para a Capital Europeia da Cultura que aí vem. Lancei-as de jacto, antes que esvaecessem, para papel de carta e introduzia-as num envelope de correio verde, que comecei a endereçar:

Exmo Senhor

Ministro da Cultura

Mui Ilustre Professor Doutor….

Em chegando a este ponto, deu-se-me um nó. Não sei como se chama o nosso Ministro da Cultura. Tinho ideia de que a senhora que lá estava tinha sido despedida a seu pedido, e recordo-me muito vagamente de que teria sido nomeado para o seu lugar um certo senhor, mas logo constatei que não sei qual seja o seu nome e que nem sequer faço ideia de como seja a sua vera efígie. Confesso que não sou capaz de dizer se é branco ou preto ou vermelho ou amarelo ou às riscas. Pedi a Mr. Google Images que me mostrasse o retrato de Sua Excelência O Ministro da Cultura. Saiu mulato.