Sei de quem tem um desses espelhos em casa, daqueles que reflectem uma imagem maior do que a coisa reflectida. Ao acordar, olha-se no espelho mágico e diz, de si para si: como sou grande e belo e culto. Quando sai à rua, olha em volta e apenas vê gente pequena e feia e ignara. Nunca olha para os seus semelhantes, porque não vê ninguém que lhe seja semelhante. Trata os outros com certa condescendência, algum paternalismo e não pouco enfado. A quem o saúda, responde com um vago sorriso amarelo. A quem lhe estende a mão, embora lhe apeteça, não recusa a sua, e dá-a fria e mortiça. E dir-se-ia que pensa, de si para si, a todo o instante: como sois pequenos, coitados e sem berço. Nas raras vezes em que se dá ao trabalho de falar, fala de cima da burra, aquela mesma que mija para trás.
No seu deslumbre, era preciso que olhasse para o espelho com um pouco mais de atenção, para perceber que, tanto quanto lhe aumenta o umbigo, também lhe aumenta as orelhas.
pode ser tanta gente óHonoré, assim de repente não estou a ver. aguardam-se novas pistas. e vem isto a propósito de quê?
ResponderExcluirPois é, pode ser tanta gente.
ResponderExcluirIsto vem a propósito de uma certa vimaranensidade pequenina, que anda por aí, nas páginas de jornais cá da terra, que se tem por maior que todas as outras, que se cala, quando devia falar, e que, quando melhor seria que estivesse calada, se não fala, escreve. Vem isto a propósito uma certa pequenez que se julga grandiosa, que paira sobre a cabeça dos humildes mortais como uma espécie de reserva de vimaranensidade que nunca deixou de ser reserva, própria de alguém de quem não se conhece obra que se veja, mas que se sente com autoridade para dispara(ta)r sobre tudo o que mexe à sua volta. É um mal genérico, digamos assim.
Pode ser tanta gente, pois. Por exemplo, sua potestade, o pires.
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