Reconheço. Sofro de hipocondria. Sofro dessa e de todas as demais doenças que andam por aí, com excepção da hidropisia das criadas de servir. É por isso que tenho andado ausente. Desde que se começou a falar na gripe suína-mexicana-a-h1n1, fiquei apreensivo e, assim que pude, vazei. Jurei para mim que esta não me ia apanhar. Fui para o meio do monte. No deserto, fiz-me anacoreta. E, à falta de que fazer neste meu retiro, tem-me dado para pensar e para ler coisas velhas e ressequidas. Estou a preparar um tratado sobre este nosso modo de ser lusitano, tão entusiástico, voluntarioso e imaginativo na hora de pensar em fazer projectos e tão rápido em esquecê-los na hora em que deveriam acontecer. O redemoinho dos meus pensamentos, trouxe à superfície a lembrança do regozijo, do entusiasmo e, até mesmo, da excitação com que recebemos a notícia de que, vá-se lá perceber porquê, tínhamos sido bafejados com a Capital Europeia da Cultura de 2012. Fomos brilhantes no torvelinho de atirar ideias para o ar. Discutimos o que parecia mais urgente, a escolha de quem iria protagonizar tamanha empreitada: O Senhor Comissário. Pusemo-nos todos à procura de uma figura para conduzir a CEC. Houve quem fizesse sondagens, traçaram-se perfis, estabeleceram-se prazos, houve mesmo quem tivesse suficiente golpe de asa para encontrar o génio que nos deveria guiar. Haveria de ser uma figura de grande projecção na cultura pátria, com dimensão internacional, de preferência com ligações a Guimarães. Procurava-se um catalisador para o entusiasmo e para as energias dos vimaranenses. Já se passaram mais de três anos. Consta-me que já foram apresentados uns nomes, dos quais só me lembro do de Jorge Sampaio (que, ao que percebi, ocupará na estrutura da CEC uma posição a modos que a fugir para o decorativa). Se já existe o tal comissário, o grande timoneiro deste empreendimento, confesso que não dei por isso. E do que vou vendo daqui, deste meu recesso profiláctico, nada vejo que me arrebate, que me entusiasme ou, sequer, que me anime.
sábado, 28 de novembro de 2009
Alguém Viu Por Aí Um Comissário?
Deixado por
Honoré de Balazar
em
17:34
Assunto: Tão contentinhos que nós estávamos
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